Foi com um tom de sinceridade que o ministro apresentou Miguel Gonçalves: “Conheci-o através do YouTube, convidei-o para almoçar e disse-lhe que ele podia ser o rosto deste programa”.
O ministro responsável pelo Impulso Jovem, que pretende combater o desemprego entre os mais novos, justificou a contratação de Miguel Gonçalves – que trabalhará gratuitamente – por ser capaz “de trazer uma nova linguagem e alguma irreverência” ao programa. A sessão decorreu na manhã desta terça-feira, na presidência do Conselho de Ministros, com o ministro da Economia, Santos Pereira, e os secretários de Estado da Segurança Social, Juventude e Agricultura.
No púlpito, Miguel Gonçalves, natural de Braga, fundador de uma empresa de criatividade especializada na criação de soluções de comunicação interna, desempenhou o que costuma ser o seu papel – dar palestras. Apresentado como um jovem de sucesso, Miguel Gonçalves tentou entusiasmar a plateia de empreendedores sentados atrás de si: “Tu és o senhor da tua carreira”.
O “embaixador” quis dar uma lição de atitude aos jovens desempregados e que querem estudar ao mesmo tempo. E deu a receita: “Amigo, se tu com 20 anos não consegues arranjar 100 euros por mês para pagar os estudos, então vais ter muitos problemas na vida, porque até a vender pipocas se arranja cem euros por mês”.
Miguel Gonçalves garante que nunca enviou um currículo e diz até que incentiva os jovens a não o fazerem. Mas para lá do “nervo” que quis incutir chegou a causar embaraço quando, tendo ao seu lado o ministro Miguel Relvas, deu um exemplo dos alunos da sua mãe, que é professora, que “acham que se não estudarem passam na mesma”. Ou ainda quando referiu “as lágrimas [que se vertem] com os impostos que têm de se pagar e que podiam pôr mais gente a trabalhar”.
Miguel Gonçalves só não teve resposta para os jornalistas que lhe perguntaram sobre as políticas do Governo que provocaram desemprego. “Estais a tentar apanhar-me de um lado e do outro. Eu não sei. Faz perguntas importantes, as pessoas têm pouco tempo, as pessoas que estão em casa têm que perceber ‘olha uma boa ideia, rapaz!'”
Sobre o que sente quando vê o ministro das Finanças a anunciar mais austeridade, o "embaixador" disse não ter resposta. “Faz uma pergunta que consiga responder”, disse, admitindo que pode ter soluções de emprego para jovens de 23 anos, mas não para pessoas de 45.