IndieLisboa 2013: uma edição a tentar resistir à crise

Festival decorre de 18 a 28 de Abril. A ver se a crise (não) mostra as suas marcas

No, de Pablo Larrain, encerra uma trilogia chilena e abre o festival DR
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No, de Pablo Larrain, encerra uma trilogia chilena e abre o festival DR
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IndieLisboa, 10.ª edição, a primeira depois da declaração oficial de "crise". Uma "baixa": não há HeróiIndie, secção retrospectiva que pesa nos orçamentos pela necessidade de cópias habitualmente não disponíveis, já que falharam parcerias. Da ideia de fazer do realizador Harmony Korine o Herói de 2013 sobra o último filme, "Spring Breakers" (secção Observatório). E tenta compensar-se a ausência dessa marca de personalidade com a trilogia "Paraíso" do austríaco Ulrich Seidl, programando os três filmes sobre mulheres de uma mesma família - a mãe ("Paraíso: Amor"), a tia ("Paraíso: Fé") e a filha daquela ("Paraíso: Esperança"). É uma hipótese rara de ver juntos filmes estreados separadamente em festivais e encontrar marcas genéticas em anteriores documentários do cineasta, casos de "Models" (1999), "Animal Love" (1996) e "Jesus, You Know", que estão também programados.

Isto, na verdade, já fora anunciado. Tal como a série de "Death Row", de Werner Herzog (Observatório), quatro episódios que fazem o retrato de prisioneiros nos corredores da morte de prisões americanas - foi daí que saiu "Into the Abyss", exibido no Indie passado. Ou o filme de abertura, a 18 de Abril ("Não", de Pablo Larrain, fecho da trilogia sobre o Chile, depois de "Tony Manero" e "Post-Mortem"), e, a 28 de Abril, o filme de encerramento, "Before Midnight", de Richard Linklater ("Antes do Amanhecer" e "Antes do Anoitecer").

Mas esta terça-feira, em conferência de imprensa, o Indie revela toda a programação (em pdf). Nuno Sena começa por antecipar ao PÚBLICO que o festival "resistiu até onde pôde" aos cortes para fazer com que a programação não reflectisse enfraquecimentos. Se "não consegue voltar a fazer tudo o que já fez" até tem nesta edição "um número de filmes e de sessões superiores aos de 2012" - terá "menos convidados e menos festas." E de um exercício comparativo - onde estavam em 2004, onde estão em 2013 - conclui que, embora algo se tenha transformado, nada se perdeu de essencial. "Há dez anos estávamos em três salas, hoje estamos em quatro salas e sete ecrãs." Há 10 anos, uma das pedras-de-toque foi mostrar o cinema português "em pé de igualdade" com o cinema internacional, e hoje... "o cinema português diversificou-se, alargou-se"... Fala em "filmes de difícil classificação, exemplos de como os cineastas portugueses têm a capacidade de serem surpreendentes". Exemplifica: "Lacrau", de João Vladimiro, "Campo de Flamingos sem Flamingos", de André Príncipe, ou "Um Fim do Mundo", de Pedro Pinho, na competição nacional, mais poderíamos falar em Gonçalo Tocha, André Santos e Marco Leão ou António da Silva. A crise ainda não mora aqui, fica para o ano.

Há dez anos, o HeróiIndie foi Sundance, montra do cinema independente americano. Nesta edição, actualiza-se em mais de uma dezena de títulos o que é isso de ser indie americano. É diferente, de "Simon Killer", de Antonio Campos (competição), a "Gimme the Loot", de Adam Leon (Cinema Emergente), que reinventa uma geografia, Nova Iorque, que o cinema fixou; de "Pincus", de David Fenster, a "Computer Chess", de Andrew Bujalski, ou "Ape", de Joel Potrykus. Continuando o exercício entre 2004 e 2013: há "territórios em regressão", como a Ásia ou a Argentina (um só título, "Leones", de Jazmin Lopez, filme de jovens como filme de vampiros, e que é intimidante porque está demasiado atento à imagem de marca desta cinematografia).

Experiências surpreendentes esperam-se de alguns dos títulos mais falados dos festivais: "Leviathan", de Véréna Paravel e Lucien Castaing-Taylor (Competição Internacional), "The Act of Killing", de Joshua Oppenheimer (Pulsar do Mundo), que propôs a ex-torcionários indonésios reverem-se em fantasias hollywoodianas como autores dos crimes que cometeram, ou "Amsterdam Stories USA", de Rob Rombouf e Rogier van Eck (Pulsar do Mundo), road movie de seis horas através de 15 localidades americanas que se chamam Amsterdam, partindo de Nova Iorque (a antiga New Amsterdam) até à Califórnia.

Na secção Director"s Cut, a Cinemateca aceitou um diálogo com títulos programados pelo Indie, de forma a que um documentário sobre Harry Dean Stanton ("Partly Fiction", de Sophie Hunter) possa falar com "Paris Texas", de Wenders, que um documentário sobre Ben Gazarra possa ser o passaporte para revisitar a obra-prima "They All Laughed", de Bogdanovich ou que o abissal "The Unknown", de Todd Browning, possa sussurrar com um documentário de 2012 sobre o actor Lon Chaney, "A Messenger from the Shadows", de Norbert Pfaffenbichler.

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