A artista portuguesa Carla Filipe é para já a única participação portuguesa confirmada na Bienal de Istambul, que será inaugurada a 14 de Setembro. O convite seguiu-se à visita de uma equipa do certame a ateliers de artistas nacionais (em Lisboa e no Porto) e desafia Carla Filipe (Aveiro, 1973) a confrontar-se com o tema escolhido pela curadora Fulya Erdemci: o espaço publico. Não é um repto estranho às motivações que têm caracterizado a produção da artista. O questionamento de formas contemporâneas de democracia, dos conceitos de civilização e barbárie ou do papel da arte na esfera pública, que a bienal pretende explorar, liga-se à história política e cultural, disciplinas que Carla Filipe traz com frequência para os seus trabalhos. Basta lembrar Desterrado, de 2010 (aludindo à imigração e apresentado na Manifesta 8, em Múrcia) ou o livro An ilustrated guide to the British Railways to my Study, sobre as implicações sociais e políticas dos caminhos-de-ferro.
Nem por acaso, Carla Filipe lançou no passado sábado, com o selo da Kunsthalle Lissabon, mais um projecto em forma de livro. Chama-se As Primas da Bulgária e resultou de uma surpreendente investigação que cruza elementos biográficos com uma história relativamente ignorada do seculo XX português: a dos jovens portugueses que logo, após o 25 de Abril, foram estudar para países socialistas. Por meio de fotografias de arquivo e de família, memórias pessoais e depoimentos, Carla Filipe oferece-nos uma obra que, sem querer fazer História, resgata e reconstrói uma narrativa atravessada por desenganos, promessas, reencontros e desejos, e que se descobre na íntima e livre relação entre as fotografias e os textos.