IKEA Portugal retirou lote de almôndegas cujo fornecedor é o mesmo das lojas da República Checa

Na sexta-feira, a empresa deixou de vender produto em Portugal, depois de se ter descoberto carne de cavalo em prato similar na República Checa.

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Nas lojas da IKEA de Portugal também se podem comer almôndegas Paulo Pimenta (arquivo)

“Já tínhamos retirado as almôndegas desse lote na sexta-feira”, explica ao PÚBLICO Ana Teresa Fernandes, relações-públicas da IKEA Portugal, a empresa de origem sueca que se dedica à produção e venda de móveis e artigos para a casa. Segundo a assessora, a IKEA já enviou uma amostra deste lote para análise, para verificar se existe nela, de facto, carne de cavalo. Os resultados da análise só estarão prontos na terça-feira.

Para já, a IKEA  de Portugal só vai fazer análises a este lote específico que foi retirado na sexta-feira e que estava à venda no mercado da IKEA, onde se podem comprar almôndegas congeladas. As almôndegas suecas são feitas com carne de porco e de vaca. 

A IKEA tem três lojas em Portugal: Alfragide, Loures e Matosinhos. Este lote não terá chegado a entrar naqueles três estabelecimentos. “Só sei que não estava em Alfragide”, diz Ana Teresa Fernandes ao PÚBLICO, acrescentando que, tanto quanto sabia, este lote específico só foi vendido em almôndegas congeladas e não nas almôndegas que se vendem nos restaurantes das lojas.

Os fornecedores de carne da IKEA para os países do Sul da Europa não são, em geral, os mesmos das lojas da Europa do Leste e dos Balcãs, refere a assessora. Este lote em particular foi uma excepção. As almôndegas com carne de cavalo foram encontradas num mercado de uma loja da República Checa. “Foi anunciado por um colega da IKEA da República Checa”, refere Ana Teresa Fernandes. A empresa sueca deixou de vender almôndegas na Suécia depois do sucedido, revela nesta segunda-feira a BBC News.

Outros países afectados
Além de Portugal, o lote de carne foi retirado em lojas IKEA de vários países europeus: Bélgica, Chipre, Eslováquia, Espanha, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Reino Unido. “A IKEA não aceita quaisquer outros ingredientes além dos que estão estipulados nas nossas receitas e especificações, garantidos através de padrões estabelecidos, certificações e análises em laboratórios credenciados”, diz a empresa num comunicado nacional lançado no início da tarde desta segunda-feira.

A IKEA é a última de um número crescente de empresas apanhadas no meio da fraude da carne de cavalo que está a surpreender a União Europeia. Tudo começou em Janeiro, quando se descobriu no Reino Unido lasanhas Findus que deviam ser de carne de vaca, mas que tinham 100% de carne de cavalo.

À medida que se foi encontrando carne de cavalo em alimentos transformados noutros países da Europa, como a Alemanha e a França, foi-se percebendo a dimensão da fraude, que torna a produção destes alimentos mais barata. Em Portugal, já foi encontrada carne de cavalo na lasanha comercializada pela Nestlé em exclusivo para hotéis e restaurantes, em lasanha da marca EuroShopper que esteve à venda nas lojas Recheio e noutros casos pontuais.

Há duas semanas, o Comité da Cadeia Alimentar e Saúde Animal da União Europeia aprovou um plano para despistar a presença de carne de cavalo não-declarada em alimentos por toda a Europa. Um dos problemas que estão em cima da mesa e que o Presidente francês, François Hollande, quer ver alterado, é a referência da origem das carnes nos produtos transformados.

Até agora, os produtos de carne transformada só eram acompanhados da informação da percentagem de cada tipo de carne e não da origem, aumentando a competitividade entre os países europeus. Mas a crise da carne de cavalo pode mudar este paradigma e pôr a informação do lado do cidadão. Nesta segunda-feira, o conselho de ministros da Agricultura da União Europeia vai reunir-se. Este será um dos temas na agenda.

A ministra da Agricultura, Assunção Cristas, disse nesta segunda-feira, em Bruxelas, que este caso volta a pôr em cima da mesa uma questão que é muito importante. "Se  tivermos as etiquetas, os rótulos em que obrigatoriamente esteja referenciada a origem do produto base também ajudamos a obrigar a mais transparência", sustentou Assunção Cristas, citada pela Lusa.

Notícia actualizada às 13h30, acrescentada informação sobre Portugal; e às 14h51 acrescentada contextualização da crise da carne de cavalo na Europa. Notícia corrigida às 16h00, a reunião do conselho de ministros da agricultura é nesta segunda-feira e não na terça como estava referido. Notícia actualizada às 17h32 com as declarações da ministra da Agricultura.
 
 
 

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