É uma prova do “valor dos portugueses”. Reacção do designer Eduardo Aires, do gabinete White Studio, ao Graphis de platina atribuído à agenda “Past & Future”, depois de no ano passado a sua embalagem especial da garrafa Magistra ter merecido igual distinção.
“Honestamente, significa que o design português tem uma relevância consolidada. Quando confrontados ao mais alto nível, [os designers portugueses] têm bons resultados”, considera. A competição promovida pela agência norte-americana Graphis premiou a agenda na categoria Calendários, sendo que apenas oito produtos arrecadaram a platina que distingue o melhor do design (“Best In Design”), entre os quais a GQ Magazine.
Esta peça é o primeiro produto lançado pela BITRI, marca que conta com curadoria de Eduardo Aires, a quem cabe produzir “artefactos auto-iniciados, bi e tridimensionais”. “Esta agenda representa aquilo que de mais íntimo uma pessoa pode ter”, descreve o designer.
“Past & Future” é, assim, uma caixa de madeira com duas gavetas — uma para o futuro, outra para o passado. As folhas de papel cuidado transitam de uma para a outra, à medida que são usadas e que o tempo vai passando. “Apela a um lado emocional, íntimo, a um sentimento de recolhimento ao final do dia, mas também a uma certa poética, de escrita pessoal”, diz Eduardo. Este objecto de luxo (madeira exótica, “fine paper”, estampagem a ouro”) vai entrar em comercialização dentro de dois a três meses, possivelmente em parceria com grandes marcas internacionais. Preço: mil euros. Mas calma, estão a ser preparadas outras versões “muito mais acessíveis” em madeira mais clara e em papel.
Design em contracorrente
O White Studio enviou outros projectos para a competição, mas “ainda não houve novidades” quanto aos outros. O que é certo é que a equipa está “muito crente”. “A forma como fazemos design é totalmente diferente, com processos exclusivos”, evidencia o professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto que em Março lança um livro a título particular. “Inside Outside”, uma edição própria, patrocinada a 100% por uma empresa alemã, vai “reflectir” o trabalho do designer, mas também “uma forma de estar na vida”.
O ano passado foi a primeira vez que submeteu um produto do seu próprio gabinete num concurso; este ano, fez o “bis”. Cada tiro, cada melro? Nada disso. “Cada vez mais acredito naquilo que vou fazendo e na forma de trabalhar.” Em contracorrente, o White Studio aumentou, em pessoas (“dobrei a equipa, imagine!”) e a nível de instalações, trabalhando cada vez mais em “projectos multidisciplinares”.
O que não invalida que Eduardo Aires não ache que “o mercado está de rastos”: “Trabalha-se mais e ganha-se menos” e há um “excesso de oferta” de designers. Mas, acima de tudo, “é uma pena que quem encomenda design não acredite na massa cinzenta nacional”.
A Graphis, publicação internacional que todos os anos distingue trabalhos enviados por designers de todo o mundo nas mais variadas categorias, distinguiu mais portugueses. Uma garrafa desenhada pelo gabinete António Queirós Design venceu o Graphis Gold Award, integrando a lista "100 Best in Design 2013" na categoria Packaging (embalagens) com o rótulo de vinho da garrafa "Furtiva Lágrima". "Dobradinha" para Sérgio Alves que venceu o Ouro na categoria Poster Annual, com um cartaz feito com Diogo Dias, e para o atelier João Machado Design, que arrecadou esta mesma distinção.