Desempregados tratados como “bandidos” em centros de emprego, acusa rede antipobreza

Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza denuncia preconceitos em relação às pessoas desempregadas e a quem recebe o Rendimento Social de Inserção.

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Sérgio Aires Paulo Pimenta

Sérgio Aires falava no decorrer do debate promovido pela rádio Antena 1 Estado Social: Que Futuro?, em Lisboa, no qual criticou o facto de alguns centros de emprego tratarem os desempregados como “bandidos”.

No final do debate, o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) Portugal admitiu à agência Lusa que alguns centros de emprego, em algumas zonas do país, estão a passar por situações “que os próprios funcionários nunca imaginaram”, “desde o número de pessoas que acorre aos centros de emprego até ao volume de trabalho, que também aumentou”.

Sérgio Aires frisou que se trata de um “trabalho meramente burocrático”, porque as “pessoas vão aos centros de emprego marcar presença”, em vez de irem procurar ofertas de emprego ou mostrar que andam à procura de emprego.

“É provável que o cansaço de alguns funcionários de alguns centros de emprego ajude a que esta interpretação seja feita, principalmente em cidades onde o desemprego é mais acutilante, como Setúbal ou o Porto, mas a verdade é que os ecos que nos chegam é de que as pessoas são tratadas como se não tivessem direito a receber aquele valor e estão a tirar dinheiro a alguém”, criticou.

Sublinhou que esta é uma situação “emocionalmente muito pesada” para alguém que não contava estar desempregada, que tem outras pessoas a cargo e que, muitas vezes, para terem algum rendimento extra, têm de fazer coisas “inimagináveis”, como ir buscar um familiar a um lar, para poderem ter acesso ao valor da pensão e complementarem, assim, o rendimento mensal do agregado familiar.

“Tudo isso em cima desta mesma pessoa e ainda por cima vai a um centro de emprego e é tratado como se o dinheiro que está a receber o estivesse a roubar a alguém. Não é positivo”, apontou, apesar de admitir que os centros de emprego também estão actualmente “numa situação muito complicada”.

Por outro lado, se, muitas vezes, as pessoas desempregadas recorrem à economia informal, “não é porque são bandidos, mas porque têm contas para pagar e pessoas para alimentar”, defendeu. “O que os nossos políticos têm de pensar é que se não se fizer nada no sentido de criar e reforçar a economia formal, a economia informal vai crescer”.

Acrescentando que há preconceito em relação ao desemprego, às pessoas desempregadas, a quem recebe o Rendimento Social de Inserção (RSI), a todas as pessoas “que ficam nesta dependência do Estado, como se o Estado não tivesse obrigação de lhes pagar”, deixou ainda um alerta em relação ao caminho que se está fazer em matéria de reforma do Estado social e de como se pode estar a caminhar para o fim do Estado democrático, dado que “a coesão social está em risco”.