O arquitecto Siza Vieira lamentou neste domingo a falta de práticas de manutenção de edifícios em Portugal, o que faz com que as construções se tornem mais caras do que previsto, exemplificando com a recuperação das escolas.
Mais tarde, em entrevista à RTP Informação, Souto de Moura corroborou as palavras de Siza, dando como exemplos de abandono edifícios como o da Casa das Artes ("onde chove"), a Casa de Manoel de Oliveira (alvo de vários roubos), o Pavilhão de Portugal no Parque das Nações (sem qualquer função) ou a sala de chá da Boa Nova (assaltada e em acentuado estado de abandono).
Siza Vieira falava à Lusa em Santo Tirso, onde foi inaugurado o quartel da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários locais, desenhado pelo multipremiado arquitecto, que disse estar preparado para trabalhar em novos projectos, que são “uma necessidade na formação" de um profissional.
“Um processo de construção é complicado desde o início, mas o mais importante é haver financiamento. E depois, haver financiamento para fazer uma obra que não se torne muito cara. O que é uma obra muito cara? É uma obra mal construída. Depois a manutenção é permanente e como há pouco uso em Portugal de respeitar as necessidades de manutenção do edifício, há muitos edifícios que ficam em ruínas”, afirmou Siza Vieira.
Sem retoques
Sobre algumas das suas obras que se encontram em estados de menor conservação, Siza Vieira referiu que nesse caso se trata de edifícios que se degradam por “nunca mais levarem sequer uma mão de tinta”. “De cinco em cinco anos custa pouco dar uma borradela de tinta. Mas se se espera 20 anos é quase fazer do princípio. Isso acontece muito. Tenho edifícios que, ao fim de mais de 20 anos, ainda não levaram o mais pequeno retoque, o que significa que estão muito bem construídos. [Por exemplo], a Faculdade de Arquitectura [da Universidade do Porto], nunca levou uma mão de tinta”, notou Siza Vieira.
O arquitecto mencionou também o caso da recuperação das escolas, dispendiosa pelo estado a que chegaram os edifícios. No caso dos Bombeiros Voluntários de Santo Tirso, Siza Vieira destacou o papel de “dedicação entusiástica” do presidente da associação, Asuil Dinis, que “fez o necessário para levar a bom porto esta obra”.
O presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Santo Tirso referiu que seria a primeira pessoa a estrear as novas instalações pela emoção que sentia ao ver concretizado o “sonho” de uma luta de 10 anos. “Foi um objectivo que nós traçámos e que conseguimos. Não digo que esteja aliviado porque ainda tenho muitos trabalhos pela frente”, rematou.