Para já, a França vai ficar sozinha na linha da frente do Mali
Os aliados europeus estão dispostos a fornecer apoio logístico e a participar na formação do exército maliano. A evolução dos acontecimento ditará os futuros intervenientes.
Feitas em Londres ou em Berlim, as declarações de apoio político chegaram logo após os primeiros raides do exército francês no sábado. Mas os aliados sublinharam rapidamente que a França estava a agir “sem nenhuma participação de outras forças”, como aliás tinha sido igualmente sublinhado por Paris.
Trata-se de uma “operação nacional” que foi “decidida pelo Governo francês”, disse esta segunda-feira uma porta-voz da NATO, Oana Lungescu. “Não existiram discussões entre os membros da Aliança Atlântica sobre esta crise”, explicou.
De facto, o exército francês deu a entender que preferia agir sozinho numa primeira fase por questões de eficácia, disse à AFP um responsável militar, considerando “lógica” esta atitude.
Uma vez iniciada a operação militar contra os rebeldes islamistas no Mali, a França pediu uma ajuda logística à Grã-Bretanha que disponibilizou rapidamente dois aviões de transporte militar C-17. “Fomos absolutamente claros de que se trata unicamente de apoio logísitico (…). Não haverá participação nos combates”, disse um porta-voz do primeiro-ministro britânico, David Cameron.<_o3a_p>
“Actualmente há um país e meio envolvido – a França com o Reino Unido – e um pouco de assistência dos Estados Unidos. O resto da Europa está muito circunspecta”, observa Jean Techau, do Instituto Carnegie Europe, em Bruxelas. “Muitos países europeus não consideram o Mali como uma urgência estratégica, contrariamente à França.” É o caso dos países da Europa de Leste, liderados pela Polónia que deu sinais de grande prudência em relação a esta intervenção militar.
Mas “não deverá haver países completamente contra a operação no Mali, como aconteceu no caso da Líbia”, em 2011, quando Londres e Paris tomaram a iniciativa de lutar contra o regime de Kadhafi antes de a NATO entrar em acção, recorda Vivien Pertusot, especialista de defesa europeia do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI, do seu gabinete de Bruxelas).
A analista do IFRI reparou, nomeadamente, numa “mudança de atitude” da Alemanha, tradicionalmente renitente em relação a envolvimentos militares no exterior depois de 1945.
“É claro que a Alemanha não deixará a França sozinha nesta situação difícil”, declarou esta segunda-feira um porta-voz do ministério alemão dos Negócios Estrangeiros. Um apoio “logístico”, “médico” ou humanitário” já está a ser estudado, mas Berlim exclui o envio de tropas de combate para o terreno.
Outros países como a Bélgica ou a Dinamarca também tencionam disponibilizar meios técnicos, nomeadamente no transporte aéreo.
“Espanha e Itália, que têm como a França interesses securitários muito fortes em África, poderão ser tentados a participar militarmente na operação. Mas Espanha está em pleno marasmo económico e a Itália está em campanha eleitoral”, sublinha Vivien Pertusot.
Na sede da União Europeia, em Bruxelas, a prioridade é sobretudo a de arrancar com a missão de formação destinada a fortalecer e formar o exército do Mali, de modo a que este seja capaz de reconquistar o Norte e, depois disso, defender a soberania do país. Catherine Ashton, que dirige a diplomacia europeia, apelou no sábado a uma “aceleração dos preparativos”, desta operação que inclui o envio de 400 militares, sedo metade deles instrutores que não terão qualquer papel de combate.
Mas a pergunta de um militar citado pela AFP impõe-se: “Como é que a missão da UE vai formar eficazmente unidades do exército maliano que já poderão estar envolvidas em combates quando essa missão chegar ao terreno?”