Presidente do Hospital de S. João diz que poderia prescindir de mil funcionários

António Ferreira conseguia cortar recursos humanos em 20%, se tivesse os restantes profissionais em dedicação exclusiva e se pudesse pagar incentivos.

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O hospital tem mais de 5600 trabalhadores Fernando Veludo/NFactos

António Ferreira, que falava no programa Olhos nos Olhos na TVI24, adiantou que o Hospital de S. João conta com 5600 trabalhadores e defendeu que com outra liberdade de abordagem poderia reduzir este número em pelo menos mil pessoas. “Se tivéssemos pessoas em dedicação exclusiva, todos com horários de 40 horas semanais, totalmente motivadas e dedicadas ao hospital, creio que seguramente poderíamos fazer mais do que o que fazemos com menos 20% das pessoas”, explicou.

Contudo, o médico insistiu que tal só seria possível, se pudesse passar a recompensar os ganhos de produtividade dando “incentivos de acordo com a qualidade e a quantidade produzidas”. “Temos um problema de produtividade do Serviço Nacional de Saúde. É preciso um sistema que garanta produtividade com qualidade. Há várias mudanças que proponho: uma é a ideia de exclusividade, a outra é de avaliação do que se faz e a implementação de políticas de reconhecimento ou incentivo. Podemos discriminar as pessoas pelo trabalho e qualidade do que fazem”, reiterou António Ferreira.

O responsável afirmou que “há muito dinheiro que é gasto com gente que não é produtiva, em fornecimentos externos, na realização de exames externos” – verbas que poderia compensar com a dedicação exclusiva.

O Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte acusou o presidente do Hospital S. João de querer “desestabilizar” e “criar pânico” entre os funcionários, ao admitir uma redução de 20% de pessoal. Carla Ferreira, do sindicato, considerou que as declarações de António Ferreira foram “insensatas” e “irresponsáveis”. “O Hospital de S. João funcionaria melhor sem um presidente do conselho de administração profícuo em declarações insensatas. As suas afirmações são bombásticas o suficiente para fazer furor na TV, mas, principalmente, são uma machadada na estabilidade necessária ao funcionamento do SNS”, considerou a dirigente.

Carla Ferreira entende que, com as declarações que prestou, o presidente do S. João pretende “lançar a confusão e o pânico nos trabalhadores”. “São de uma enorme irresponsabilidade, dado que António Ferreira não esclarece se pretende dispensar médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar ou quaisquer outros trabalhadores.”

“Lembramos que o Hospital S. João não é uma fábrica. E se numa fábrica um parafuso sai torto, faz-se outro. Num hospital, um erro paga-se com a saúde do doente. No Hospital de S. João já há trabalhadores, como os assistentes operacionais, que trabalham em turnos de 12 horas sem qualquer compensação. Era importante saber se está na cabeça de António Ferreira alargar ainda mais o horário destes trabalhadores e por isso desafiamos a que esclareça com rigor o conteúdo das suas afirmações”, acrescentou a sindicalista.

No final de Dezembro António Ferreira, também à TVI, já tinha feito declarações que geraram polémica a propósito da produtividade dos cirurgiões da sua unidade. O responsável avançou com a média de uma cirurgia por semana por cada cirurgião, para ilustrar a tese que desde há muito defende: a de que é possível reduzir ineficiências no Serviço Nacional de Saúde, aproveitando melhor os recursos humanos. Por isso, destacou o facto de a taxa de absentismo na unidade ser de “11%” e adiantou que pelo menos 30 dos cirurgiões da unidade não fizeram uma única cirurgia em 2012.

Para demonstrar que o problema não será exclusivo desta unidade hospitalar, foi mais longe, fazendo uma conta simples. Pegou no número de cirurgiões especialistas (3854), no total de cirurgias convencionais, excluindo as feitas em ambulatório (mais de 196 mil em 2010) e dividiu tudo por 46 semanas. Conclusão: em todo o país, em média, cada cirurgião fará uma cirurgia por semana.

Contas que foram desde logo mal recebidas pelo bastonário da Ordem dos Médicos, pelo presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia, pelo presidente do Colégio da Especialidade de Cirurgia Geral da Ordem dos Médicos, pela Federação Nacional dos Médicos e pelo Sindicato Independente dos Médicos, que asseguraram que os números não podem ser vistos desta forma, nem totalmente atribuídos aos cirurgiões, já que para a realização de uma cirurgia têm também de estar disponíveis outros profissionais, como anestesistas e enfermeiros, assim como tem de haver vagas para recobro e internamento.
 
 

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