No século XVI, um grupo de portugueses zarpou do Porto para acostar à baía de Nagasáqui e aí fundar um entreposto de comércio. Nagasáqui inaugurava assim a extensão ao extremo-oriente da teia de entrepostos portugueses estabelecidos no mundo inteiro. Esta rede comercial, antecedente fundador da globalização actual, permitiu à cultura e à língua portuguesa dar-se a conhecer a outros povos, outras culturas. O Japão foi uma das últimas etapas dos descobrimentos. A cidade do Porto partilha com Nagasáqui os altos e baixos de uma cidade instalada entre encostas, onde as ruas de calçada nos guiam até ao porto antigo da cidade. As duas cidades partilham também o estatuto de cidades gémeas desde 1978. Acredito que viajar e contar a viagem é decisivo na compreensão e questionamento do mundo. Português a viver em França há 6 anos, tenho viajado por vários continentes e a presença portuguesa no mundo é um motivo de curiosidade permanente. Qual é o “espírito” português que viaja? O que é que os meus compatriotas levam consigo para mostrar ao mundo? Que traços tem deixado a sua presença? De maneira mais universal, o que é que torna uma cidade única? E o que é que une as cidades? “Do outro lado do mar / Porto - Nagasaki, imagens comuns” pretende dar reciprocamente a conhecer um pouco de uma cidade à sua gémea, através de um olhar atento e necessariamente subjectivo. Uma série de paisagens do quotidiano, mostra as cidades com respeito pela luz, pelas cores, pela vida tal como ela é – feia e luminosa, simples e complexa, misteriosa e banal. A fotografia desempenha aqui o papel da récita à maneira antiga, ir e voltar para contar, e tenta deixar o espaço de liberdade necessário para um diálogo entre as imagens e quem as vê, entre o acontecido e o imaginado. Entre os dois lados do mar. No próximo mês de Outubro, primeiro em Nagasáqui, depois no Porto, uma exposição reunirá estas e outras imagens. João Garcia

Exposição a partir do dia 15 de Março no Centro Português de Fotografia