Lagarde acredita que Portugal não imitará a Grécia
Directora do Fundo Monetário Internacional diz que a maior frustração, ao fim de 18 meses de memorando, são o desemprego, o crédito caro e a manutenção das rendas excessivas nos sectores transaccionáveis.
"No caso do défice, tentamos não nos focar em metas nominais", salienta a primeira mulher a dirigir o FMI, uma das três instituições da troika que financia Portugal em troca de um programa de reformas previsto no memorando de entendimento. "Desde que haja financiamento disponível, tentamos focar-nos em metas estruturais", diz Lagarde, numa entrevista publicada neste sábado no semanário Expresso.
A maior surpresa que teve até agora, "foi a determinação colectiva do país na recuperação, incluindo membros da coligação, sindicatos e a opinião pública". "Nem toda a gente está contente, muitas pessoas estão frustradas, muitas estão a fazer enormes sacrifícios e muitas perderam os seus empregos. Mas há um sentimento colectivo de que existe uma saída e que tem de ser feita conjuntamente”, afirmou.
Pelo contrário, a desilusão, ao fim de 18 meses de programa, são "a elevada taxa de desemprego". "O facto de não termos previsto a inconstitucionalidade de algumas medidas propostas no ano passado também foi uma infelicidade", refere, aludindo ao chumbo dos cortes dos subsídios de férias e de Natal que o Governo introduziu em 2012 para a função pública mas que foram rejeitados pelo Tribunal Constitucional.
Ainda assim, prossegue a mesma responsável, "a execução do programa está a correr bem, com dois terços da consolidação orçamental já realizada". "As autoridades portuguesas e os portugueses têm sido extremamente corajosos e firmes na aplicação de reformas difíceis e dolorosas", sustenta Lagarde, que se diz "muito confiante", apesar dos riscos ainda no horizonte. "Estamos, claro, preocupados com o aumento do desenprego", prossegue, sem ficar muito agarrada ao que classifica como "metas nominais". "O ajustamento estrutural é mais importante do que as metas nominais", reforça.
Por isso, o "objectivo número um" é "completar o programa" de reformas, porque seria "uma pena, depois de tantas medidas e de tantos sacrifícios, não o completar". "Claro que se existirem choques externos – um colapso do crescimento europeu, problemas resultantes de decisões políticas erradas [...] – devem ser tidos em conta de forma apropriada", continua a directora do FMI, instituição que, em Outubro do ano passado, acabaria por reconhecer que calculou mal o impacto da austeridade.
Há três meses, concluíra-se que por cada euro de austeridade, a economia não cai 0,5 euros, mas sim entre 0,9 e 1,7 euros. As contas erradas foram, aliás, abordadas de novo na quinta-feira, antevéspera da publicação desta entrevista de Christine Lagarde. Num paper datado de 3 de Janeiro e assinado por dois responsáveis do FMI, o economista-chefe Olivier Blanchard e o economista Daniel Leigh, estes concluem que a economia europeia perdeu mais do que um euro por cada euro de redução do défice. Embora iniciem este documento afirmando que o relatório não pode ser confundido com a posição do FMI, a posição que ambos ocupam permite perceber que a receita da austeridade não é, no fim de contas, a mais querida nesta altura dentro do próprio FMI.
Porém, uma reestruturação da dívida portuguesa "não está em cima da mesa" e o alargamento das condições dadas à Grécia para Irlanda e Portugal é algo que estes dois países não querem, argumenta. Questionada sobre se está "absolutamente convencida" de que Portugal não vai seguir o mesmo caminho da Grécia, Largarde responde: "Sim, estou."
Sobre o regresso aos mercados de financiamento, a directora do FMI, que assumiu o cargo em Julho de 2011, frisa que "os parceiros europeus sempre disseram que iriam apoiar e fazer o que fosse necessário para ajudar o país, desde que este estivesse a cumprir".