John Talabot – "ƒIN"
Por aqui não há espaço para o pretensiosismo ou afloramentos supérfluos. E porque haveria quando existem minudências que devem a sua essência à cuidadosa depuração de elementos pop, soul e disco de outros tempos, elementos que enriquecem naturalmente as texturas house? "ƒin" é um exemplo de como a nostalgia pode viver de mãos dadas com a inventividade, gerando uma energia positiva capaz de transformar o dia mais penumbroso num fulguroso dia de pura celebração da vida. (Rafael Santos)
Black Bombaim - "Titans"
Os ecos de "Titans", disco duplo, imensidão atmosférica e bolsa de viagens por territórios ainda nem sonhados, far-se-ão ouvir até à morte final do rock n' roll (se é que esta, alguma vez, acontecerá). Aos Black Bombaim, por "Titans", e pelos seus concertos sempre imperdíveis, não poderemos dirigir outra palavra que não esta: “salvé”. O ano é todo vosso. (Paulo Cecílio)
Neneh Cherry & The Thing – "The Cherry Thing"
Fundado no ano 2000, o trio The Thing surgiu da reunião de Mats Gustafsson (saxofones), Ingebrigt Håker-Flaten (contrabaixo) e Paal Nilssen-Love (bateria), como homenagem ao histórico trompetista Don Cherry - aliás, “The Thing” é o título de uma composição sua. Ao longo desta década o trio tem vindo a trabalhar uma música improvisada de alta intensidade, servindo-se de temas rock como matéria prima, na maior parte das vezes. A união do trio com a voz de Neneh Cherry, enteada de histórico trompetista, (e)levou-o a um universo mais pop, transportando consigo a sua energia original. (Nuno Catarino)
Alt-J - "An Awesome Wave"
Sabes para onde vão as coisas selvagens? Vão indo para te tirar o mel. Que mel tens tu, rainha da minha vacina que te chamas Morfina? Isto não fez sentido nenhum. As letras de Alt-J são um caos irreconciliável e tentativa de surreal, mas enquadram-se na perfeição na música que cobrem. Há uma base convencional em "An Awesome Wave" que levou a que recebesse diversos prémios e que fosse visto ao longo do ano como um dos melhores álbuns de 2012, mas que não chega para explicar a sua totalidade. É exótico, mas previsível. (Tiago Dias)
Orelha Negra - "Orelha Negra"
O mundo seria mais bonito se propagasse mais rapidamente o talento dos Orelha Negra do que a nossa crise económica. Enquanto isso não sucede, a banda composta por Sam the Kid, DJ Cruzfader, Fred Ferreira, Francisco Rebelo e João Gomes vai fazendo pela vida por cá. Feliz encontro de pessoas afectas ao groove, ao hip-hop e à cultura urbana, os Orelha Negra são um pequeno milagre anti-tortura. E são uma bem-aventurada mistura entre tendências actuais e reminiscências soul dos anos 70. (Eugénia Azevedo)
Bill Fay - "Life Is People"
[...] se a espiritualidade já banhava oceanos vivos de humanidade em tempos de "Bill Fay" e "The Time of The Last Persecution", agora o mergulho, em pleno ano da Re-Grande Depressão, é absolutamente uma apneia contínua de inspiração, restabelecer forças, redobrar esperanças e voltar à superfície, aos saltos, como golfinhos bebés atrás do ar puro longe de tubarões e orcas más. (Nuno Leal)
Tame Impala - "Lonerism"
"Lonerism" é o disco que os novos miúdos indie podem mostrar aos pais para, finalmente, partilharem um momento de "headbanging" (ou de "trip", para os mais ousados): o pai lembra-se dos bons momentos dos anos 1960 e 70; o filho tem uma epifania e, de seguida, compra uma guitarra. Confirma-se que Kevin Parker é um geniozinho: estas melodias perfeitas, sacadas ao melhor da "psicadelia" e aos tempos em que a estranheza era normal na coisa pop, estão no cérebro do australiano, que as põe cá fora – para nosso bem. (Pedro Rios)
Hot Chip - "In Our Heads"
"In Our Heads" está carregado de boas razões para continuar a celebrar a música dos Hot Chip em 2012 e esperar deles sempre o melhor do melhor. E que melhor é esse? Todos os refrães certos, uma produção sempre acima da média (e mais apurada a cada disco, a cada single), canções quase sempre perto da perfeição, "aquela" dose indicada de humor, música elástica o suficiente para funcionar em todas as situações sociais possíveis: na pista de dança, no emprego, no flirt, no sofá, no jantar de Natal da empresa (André Gomes)
Kendrick Lamar - "good kid, m.A.A.d city"
Observador nato, Lamar vai desenvolvendo uma narrativa fascinante, coadjuvado por uma produção contida e atmosférica, capaz de acolher na perfeição as suas rimas intrincadas e a catarse que vai deambulando por entre estas canções. Ambicioso e profundamente real, "good kid, m.A.A.d. city" é um dos mais vitais e fulgurantes retratos dos 00's em memória recente. (Bruno Silva)
Frank Ocean - "Channel Orange"
Frank Ocean não só é uma personagem numa gigantesca peça – que é a indústria musical –, como é um protagonista num drama pessoal que divisou finalmente a catarse na escrita de canções. "Channel Orange" é a primeira (e a última?) consequência dessa purificação, o preâmbulo da concretização (moral?), de libertação dos fantasmas que assombravam o armário. No fundo é um momento de triunfo em que todos lucram: ele, por superar os seus receios, encetando uma nova era no estádio da sua existência, e nós, por depararmos com um genuíno trabalho de autor que usa o mais elegante e sofisticado R&B como veículo de uma expressão interior. (Rafael Santos)
O artigo completo (e a lista inteirinha dos 30 melhores álbuns) está no Bodyspace.