Histórias de família contadas num retrato
A Help Portrait é uma organização internacional de fotógrafos profissionais que se voluntaria para sessões fotográficas grátis
Histórias de avós e de netas. Histórias de mães, que são também pais. Histórias de uma adolescente que tem medo dos olhares das fotografias e de uma criança de sete anos que quer ser fotógrafa. Histórias que partilham condições económicas e sociais menos favorecidas e, que neste sábado, partilharam também uma sessão fotográfica gratuita.
O projecto, que em Lisboa foi acolhido no Centro Social da Musgueira, acontece graças à Help Portrait, uma organização internacional de fotógrafos profissionais que se voluntaria para fazer sessões fotográficas grátis a pessoas que, de outra forma, não teriam oportunidade de as realizar.
Como é o caso de Teresa Rainha, uma das mães fotografadas, que recebeu com um sorriso rasgado a moldura já pronta com a fotografia da família, ainda que incompleta. “Emocionei-me muito quando vi a fotografia, também por o meu filho mais velho não poder estar aqui, está doente e teve de ficar em casa”, contou. “Mas já viu como está a fotografia?”, vai perguntando, orgulhosa, a quem passa, mas não dá tempo para alguém responder.
“Estou linda, não estou? Posso ficar com a maquilhagem assim? Acho que não lhe vou tocar quando chegar a casa!”, brincavam algumas senhoras. “Não estou habituada a ser tão bem tratada”, comentavam. É que a sessão não se fica pelo retrato. Antes disso, as famílias – mesmo os membros do sexo masculino – são maquilhadas por profissionais.
Este ano, e à semelhança dos últimos tempos, a maioria dos desejos de Natal passam por um emprego, ou mais um part-time. No entanto, no final do dia, as fotografias eram exibidas com um sorriso e várias vezes adjectivadas de “presentes que ajudam a manter a esperança e a relembrar o que dá força para continuar” .
Neste sábado, celebrou-se o dia da associação e a iniciativa repetiu-se em cerca de 32 países. Em Lisboa, a Help Portrait moveu 25 voluntários, que colaboraram com mais 20 membros do Centro Social da Musgueira. Entre maquilhadoras, fotógrafos, pessoal responsável pela iluminação, tudo foi pensado ao pormenor, com rigor e profissionalismo. Em nenhum momento do processo houve “dinheiro vivo” a circular, ou seja, este projecto é possível graças aos patrocínios de empresas como a Epson, Leroy Merlin ou Minipreço.
Numa altura de forte crise económica, como é que uma fotografia pode mudar o dia-a-dia de uma família? Tarcísio Pontes, da Help Portrait, responde: “Uma fotografia não vai resolver todos os problemas, é certo, mas trata-se de um presente da dimensão humana, que vai permanecer na casa e memória das pessoas.” Para algumas famílias, esta foi a primeira vez que tiraram uma fotografia com todos os membros do lado de lá da objectiva. Ver uma foto destas na sala, no quarto ou na instituição na qual trabalham “tem um impacto muito positivo na auto-estima das pessoas”.
Constante Rodrigues, coordenador no Centro Social da Musgueira, comenta que existe “muita carência económica e estas pessoas são as primeiras a sentir”. O perfil destas famílias é muito transversal, “são pessoas com fracas qualificações académicas, que vivem de apoios sociais e das instituições locais”, define.