David Ayer, argumentista (de Dia de Treino, que valeu o Óscar a Denzel Washington, por exemplo) e realizador, está para o cinema como James Ellroy para o romance: um cronista apaixonado pelas mean streets de Los Angeles, fascinado pelos códigos de honra da masculinidade clássica das histórias de polícias e ladrões. Fim de Turno, terceira longa-metragem depois de Tempos Difíceis (2005) e Os Reis da Rua (2008), é uma carta de amor à polícia de Los Angeles e, sobretudo, aos polícias de giro que enfrentam diariamente o crime nas ruas dos bairros degradados da metrópole.
br/>
Ayer disfarça a sua narrativa clássica sobre a camaradagem e o sentido do dever com a linguagem moderna dos telemóveis e dos reality-shows, com o filme a articular-se a partir das imagens filmadas por um polícia de giro ao longo dos seus turnos com vista a um projecto universitário. Há momentos genuinamente bons aqui: as abordagens à vulnerabilidade dos seus heróis que ensaia, a urgência que a câmara à mão dá a algumas cenas (sobretudo na sequência do incêndio), a vontade de ejectar o mais possível o espectáculo dos tiroteios e das perseguições que se esperam de um filme policial. Jake Gyllenhaal e Michael Peña ajudam muito com a sua entrega às personagens, e Ayer tem um ouvido notável para os coloquialismos do gueto (bem traduzidos por Gonçalo Sousa), mas Fim de Turno acaba por nunca descolar, afundando-se num final convencionalíssimo que acaba por confirmar a agenda hagiográfica por trás do projecto.