João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira são os artistas plásticos que têm vindo a desenvolver o fanzine P-Town. E porquê este nome? P-Town deriva de Provincetown, Massachusetts, Estados Unidos - cidade conhecida por ser um "resort" LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgéneros) no país.
Motivações: a descendência portuguesa e a comunidade "queer"
Em 2011, os dois artistas rumaram até Provincetown, onde permanecerem em residência artística durante três semanas. A motivação foi bicéfala: para além de a cidade ser um marco para a comunidade gay, apresentou-se também como abrigo da comunidade de descendência portuguesa desde o século XIX. "Como portugueses, artistas e gay, vimos na própria cidade e na sua história uma forma de desenvolver uma série de projectos artísticos que abordassem temáticas que se prendem com questões de identidade nacional e sexual", explica João Pedro Vale. Desta compreensão surgiu o primeiro número do P-Town, apresentado em Brooklyn, Nova Iorque, no âmbito de uma exposição.
O segundo número do fanzine foi apresentado em Lisboa, na galeria Boavista. Nesta edição, voltaram-se a apresentar as imagens recolhidas em Provincetown presentes na primeira edição, mas também imagens dos trabalhos da exposição.
A terceira e mais recente edição do P-Town foi lançada dia 24 de Outubro, em Lisboa, e debruça-se sobre a cidade da Costa da Caparica. "É claro que nem a Costa da Caparica é Provincetown nem a nossa relação com os dois lugares é a mesma (…) Contudo, existem vários pontos em comum entre as duas realidades, nomeadamente no que respeita ao entrosamento entre a comunidade piscatória local e a comunidade gay", afirmam os artistas num excerto da entrevista feita por Miguel Amado aos mesmos e publicada no terceiro fanzine.
Um projecto de colaborações
Ao contrário dos dois primeiros números, que foram lançados no âmbito de exposições, o P-Town#3 (Caparica) é um "objecto autónomo". "Como a lógica do projecto sempre foi uma lógica de colaboração — com a designer Sylvia Gruber nos dois primeiros números e com o arquitecto Sérgio Rebelo (com o qual desenhamos uma das esculturas mostradas nas exposições) —, pensámos que seria interessante desenvolver um objecto que acompanhasse esta terceira edição", acrescenta João Pedro.
Nesse sentido, o novo fanzine P-Town fez-se acompanhar de uma t-shirt desenhada em colaboração com o designer de moda Miguel Flor.
O projecto tem pernas e vontade de continuar a andar. "Tal como qualquer outro fanzine, não entendemos esta publicação como algo periódico, mas temos o objectivo de continuar a editar mais números", avança João Pedro.
"Tendo em conta que, no final, acaba por ser um olhar "queer" sobre as temáticas abordadas, e uma vez que sentimos que não existem muitas "queerzines" ou publicações LGBT em Portugal, pensamos fazer sentido continuar o projecto em números posteriores".