“Barba Rija”: a websérie que vai mostrar o “coração de mel” dos “bears”

Pepe, Toninho e Ursão são três amigos "bears" que vivem as suas "aventuras e desventuras" em Lisboa. Eis a websérie "Barba Rija", de André Murraças, que poderá estar, em breve, nos nossos ecrãs

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Cristiana Couceiro

São homens, quase sempre corpulentos, adeptos do pêlo e da barba rija, mas com "coração de mel". A subcultura gay "bear" instalou-se, finalmente, em Portugal — basta passar, em Lisboa, por alguns bares no eixo Príncipe Real-Bairro Alto para comprová-lo — e, por isso, já é tempo de a "retratar" devidamente. André Murraças está cá para isso e traz-nos a websérie "Barba Rija".

Encenador, dramaturgo e guionista (a novela "Rosa Fogo" da SIC, nomeada para um Emmy, tem a sua assinatura), André queria, já há algum tempo, fazer um projecto "paralelo" à sua carreira no teatro e televisão — "uma série para a web, um fenómeno que lá fora está a ter muita adesão, precisamente porque é de baixo custo". Por outro lado, apercebeu-se que a cultura "bear", apesar de estar em franca "explosão" em Portugal, "não se encontrava dramatizada" na ficção nacional. Uma motivação partilhada por outros projectos, como as séries "Chiado" e "LX Menina e Moça". 

"É um fenómeno que já existe há muitos anos lá fora, vem quase dos anos 70, e de há três anos para cá tem tido uma expansão comercial e popular enorme. Achei que devia tentar retratar essas pessoas e os sítios que frequentam", diz. E, claro, há que quebrar mitos, a começar pela epígrafe da série: "Barba Rija, coração de mel". Os "bears" (ou ursos) estão "normalmente associados a uma imagem forte, bruta, algo agressiva" e André espera, assim, "dar-lhes uma cobertura mais suavizada". A ideia é representar uma realidade que veio para ficar, de uma forma "humorística e divertida" e deitar por terra uns quantos preconceitos — do género "esta gente é toda promíscua". 

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André Murraças, de 36 anos, é encenador, dramaturgo e guionista DR

Ainda não há data

A história gira em redor das "aventuras e desventuras" de três amigos: Pepe, Toninho e Ursão. Na página do Facebook já existe um excerto do primeiro episódio. Transcrevemos:

Pepe - (irritado) Vou deixar de ser "bear". Estou farto! Amanhã vou à H&M, compro um fato manhoso, uns sapatos bicudos e passo a ser hetero.

Toninho - Se fores à H&M comprar um fato manhoso e uns sapatos bicudos passas a ser um "bear" de fato manhoso e sapatos bicudos.

Ursão - Se fores à H&M passas a ser um "bear" com mau gosto.

É uma "comédia urbana", enfatiza André, "aberta" a outros universos. Se Pepe é porteiro de uma discoteca, Toninho trabalha num escritório de finanças. Até para "fugir ao estereótipo" e comprovar que os "bears" são "pessoas absolutamente normalizadas". "Tem mulheres, toca na questão da adopção e noutros assuntos de intervenção social."

Os três actores principais já estão escolhidos, o logótipo já foi criado (autoria de Cristiana Couceiro que, exemplarmente, conseguiu imprimir "um tom divertido dentro desta barba toda") e os treze primeiros episódios já foram escritos. Cada um terá seis a sete minutos, um pouco à semelhança de formatos internacionais como "Where The Bears Are" (ver vídeo à esquerda). Mas ainda não há data de exibição.

A série, que será produzida pela Mínima Ideia, a mesma do documentário "Boys Just Wanna Have Fun" sobre a equipa gay de râguebi "Dark Horses", encontra-se agora em fase de pré-produção. Partindo do princípio que não vão recorrer a apoios governamentais, e tendo em conta que a série vai ser filmada em cafés, restaurantes, bares, discotecas, lojas e outros espaços dentro do universo "bear", estão à procura de financiamento junto destes locais. A recepção "está a ser positiva", mas ainda não é certo que as filmagens arranquem, como desejado, em Dezembro. Resta aguardar.

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