A Cachorros Quentes é uma editora ambulante que conta histórias, mitos e factos sobre a cidade do Porto. Estreou-se este ano, no Festival Manobras, no Porto, e consiste "numa editora ambulante de pequenas publicações que se desloca pelo centro histórico do Porto num carro de cachorros quentes, que em vez de vender os esperados pães com salsicha, serve de espaço de trabalho e de ponto de troca de outro tipo de alimento” relata a dupla responsável pelo projecto, Daniela Parra e Ana Palma Silva.
A ideia nesceu numa conversa durante a noite na baixa do Porto. Pensaram nos vendedores locais ou ambulantes que ouvem histórias diferentes todos os dias. “Sugere um conhecimento popular do espaço urbano e das pessoas que o habitam. De forma espontânea, pensámos num projecto que juntasse a publicação independente, histórias urbanas e venda ambulante. Assim nasceu a Cachorros Quentes” afirmam.
As pequenas publicações dividem-se em cinco categorias: “Diz que disse”, “Factos”, “Espaços”, “Personagens” e “Diversos”. Nestas, são contadas histórias pessoais, o relato de acontecimentos ou personagens emblemáticas, bem como objectos e locais históricos.
Segundo a editora, "Espaços" é a categoria mais rica. Nesta estão inseridas histórias sobre locais específicos do Porto e também procuram explorar mais esta categoria para a descoberta de sítios antigos e diferentes situados na cidade invicta.
Literatura de cordel
Admitem que o projecto é também uma referência à literatura de cordel, género literário que expunha pequenos relatos em cordéis na rua. “Hoje, em lugar de literatura temos cachorros quentes. Com a Cachorros Quentes pensámos retomar este género literário, reinventando a sua imagética” explicam.
Uma editora convertida numa “estrutura familiar descontextualizada”, invoca a originalidade do projecto criado, que chama à curiosidade de todos os que passam pela Cachorros Quentes. De acordo com Daniela e Ana, a recolha de histórias processa-se em três partes: “Entrevistas a comerciantes locais interessados em partilhar conhecimentos da profissão, realizadas antes do início do festival; recepção de textos via email antes e durante o festival; e recolha de histórias in loco”.
Fazem apelos para o envio de histórias através de cartazes espalhados pelas ruas do Porto e pelo Facebook.
As publicações podem ser adquiridas a troco de uma nova história, que será editada, rematada com ilustrações e depois, finalmente publicada. Com este projecto pretendem estimular o diálogo, bem como a partilha de contos e também conhecer todo o tipo de portuenses que queiram ler e contar histórias.
A dupla afirma: “A primeira preocupação é contribuir para a valorização do diálogo e da partilha de conhecimento entre camadas etárias que permanecem actualmente muito distantes. Barbearias, modistas, casas de botões, de filatelia, de candeeiros, sapatarias são alguns exemplos de empresas de comércio local que ocupam as ruas do centro histórico e cujos proprietários passaram há muito da idade de reforma”.
Além dessa preocupação, pretendem explorar o design editorial com o potencial do livro, através da criação de um arquivo online para dar acesso a todas as histórias que completam a cidade do Porto. Com a conexão de Daniela Parra ao Chile, para projectos futuros, Ana e Daniela estão a considerar a hipóteses de criar uma editora especializada em livros de artista para que possam também dar continuidade a algumas das histórias.