Legislativas desafiam domínio de Saakachvili na política da Geórgia
Surpreendido pela crescente popularidade da coligação de oposição, a aliança O Sonho da Geórgia liderada pelo milionário Bidzina Ivanichvili, o Presidente tem feito soar as trompetas da "invasão russa", reforçando a retórica nacionalista e pró-ocidental que o catapultou para o Governo.
Em campanha, Ivanichvili, que fez a sua fortuna na Rússia, tem repetido que o problema do país tem a ver com o abuso do poder de Saakachvili, acusado de governar "ao estilo soviético", seguindo uma "política de perseguição e intimidação de activistas e líderes da oposição".
A campanha eleitoral tem sido dura e tensa, com milhares de pessoas na rua em manifestações inéditas: este fim-de-semana, as bancadas do maior estádio da capital, Tbilissi, com capacidade para 60 mil pessoas, encheram-se para um comício do partido do Presidente; no dia seguinte, uma manifestação organizada pela oposição terá reunido 100 mil apoiantes na maior praça da cidade.
O duelo entre o Presidente e o seu rival conheceu o ponto mais alto com a divulgação, por duas estações de televisão controladas pela oposição, de imagens explícitas de tortura e abusos sexuais na prisão de Gldani. O escândalo permitiu a Ivanishvili reforçar o seu argumento de que a "fachada democrática" do Governo não passa de um logro.
Pouco depois, os telespectadores tiveram acesso ao vídeo de um familiar de Ivanichvili a oferecer um suborno a dirigentes governamentais. Foi a vez da campanha do Movimento de Unidade Nacional alegar que a oposição é formada por corruptos.
O novo Parlamento que sair da votação de hoje terá a responsabilidade de escolher o futuro primeiro-ministro do país, com poderes reforçados após uma revisão constitucional ter consagrado a mudança do regime presidencial para uma república parlamentar em 2013 (ano em que termina o mandato de Saakachvili).
O desfecho permanece imprevisível, apesar da última sondagem, realizada pela empresa alemã Forsa, colocar a coligação O Sonho da Geórgia na liderança, com 65% contra 25% do Movimento de Unidade Nacional, claramente prejudicado pelo caso de tortura nas prisões. Números de Agosto do Instituto Nacional Democrático apontavam um quadro inverso, com o partido de Saakachvili na frente, com 37%, e a aliança da oposição nos 12% (havia 43% de indecisos).
Diplomatas e observadores internacionais alertam para o potencial de "confusão" pós-eleitoral e "problemas" de segurança se a oposição cumprir a ameaça de impugnar a eleição em caso de derrota. "Já temos provas mais do que suficientes para concluir que as eleições vão ser fraudulentas e roubadas. Não precisamos de esperar pelo dia 1 de Outubro para chegar a essa conclusão", declarou Bidzina Ivanichvili à revista americana Foreign Policy.
Pressão sobre os EUAA campanha de Bidniza Ivanichvili tem feito um considerável esforço de lobby junto do Governo dos Estados Unidos, com artigos de opinião publicados na imprensa norte-americana a apresentar a tese de que a Geórgia poderia ser a "surpresa de Outubro" que baralha as contas da corrida presidencial disputada entre Obama e Romney.
No Verão de 2008, a Geórgia envolveu-se num breve conflito armado com a Rússia, que invadiu o território da Ossétia do Sul em apoio àquela região separatista - um episódio que foi aproveitado pela campanha do candidato republicano John McCain, um amigo de Saakashvili, para defender uma posição mais dura de Washington contra Moscovo. Este ano, o Presidente da Geórgia volta a contar com o apoio do conservador Mitt Romney, que designou a Rússia como o principal adversário geopolítico dos EUA.
A oposição tenta pressionar o Congresso e o Presidente Barack Obama a declarar a ilegitimidade do processo eleitoral. "Se a Administração não intervier rapidamente, a sua inacção será lida como um apoio tácito à fraude eleitoral de Saakachvili. A Geórgia corre o risco de explodir em violência antiamericana", escreveu o professor da universidade de Columbia Lincoln Mitchell, um representante da oposição nos EUA.
O próprio Ivanichvili publicou um artigo no The Wall Street Journal, no mês passado, onde dizia que "o Cáucaso pode vir a experimentar um conflito sectário semelhante ao que decorre na Síria. Com a Rússia e o Irão à nossa porta, esse é um risco que ninguém quer correr".