É português e pode ser a solução energética para qualquer casa
"É uma solução que serve para qualquer lugar, mas que se adapta na perfeição a países de grande dimensão como o Brasil ou Angola, onde a rede eléctrica não chega a todo o lado", explica Tomé Barreiro, o engenheiro mecânico, de 32 anos, que estudou e desenvolveu o modelo para a sua máquina. "A nossa ideia era apostar nas tecnologias ligadas ao ambiente e desenvolver produtos comercializáveis", complementa Hilário Campos, 35 anos, que vem da área do Direito e se dedica às questões organizativas e burocráticas.
A tecnologia não é nova, mas depois de uma análise aos custos e à produtividade das soluções existentes no mercado, ambos entenderam que o desafio passava por conceber um modelo que, além de mais acessível em termos económicos, fosse também mais eficiente e simples de montar. "Antes tinha feito investigação na área eólica. O funcionamento da pá é idêntico ao da asa de um avião", explica o engenheiro, acrescentando que outra das facetas que os levou a decidirem-se pelo aerogerador foi o facto não ser comercializado nenhum de origem nacional. "Os que estão à venda vêm sobretudo dos EUA e da Holanda, mas há muito poucos instalados no nosso país", assegura Tomé Barreiro.
Desde 2008 e durante mais de dois anos desenvolveram estudos e investigação em ambiente virtual. "Todas as componentes foram desenvolvidas por nós para optimizar resultados e tudo apontava para a possibilidade de obter uma melhores perfomances", explicam os dois jovens.
Durante 2011 foi o tempo da concepção e desenvolvimento do produto. Surgiu a empresa, a Powering Yourself, Conceitos Energéticos, Ldª (www.poweringyourself.com) e o início do fabrico dos vários componentes. Foi construído o primeiro protótipo e instalado no quintal de familiares, em Famalicão, onde funciona há mais de seis meses com resultados que confirmam o previsto durante o período de investigação.
Registado com o nome de WindGEN3000, o microgerador eólico concebido pelos dois jovens empreendedores é apresentado como "o primeiro do género a ser desenvolvido em Portugal e por iniciativa privada". Além do recurso integral a tecnologia nacional, "destaca-se pelo seu alto rendimento, até 30% superior ao dos equipamentos existentes no mercado a nível mundial".
Segundo as características técnicas, tem uma potência nominal de 3,8 kw e pode produzir uma média de 450 a 500 kwh/mês, superior às necessidades de consumo médio de uma moradia. Embora estejam ainda à procura de financiamento, ou de parceiro, para avançar para a fase de produção em série, os índices de rendimento fazem prever um prazo de retorno de investimento inferior a três anos.
A microprodução de energia está prevista em Portugal desde 2007, bastando ligar os aparelhos à rede eléctrica, que faz depois o acerto de contas com o produtor/cliente. Segundo os dados da Direcção-Geral de Energia e Geologia, a microprodução eólica é ainda quase incipiente em Portugal, ao contrário do que acontece com os aparelho fotovoltaicos. Os números apontam apara uma potência instalada de 620 kw, o que corresponderá a cerca de 170 microgeradores. Uma das razões estará precisamente nas características dos aparelhos até agora existentes no mercado.
Fabrico em série: quando?
Antes do WindGEN3000, já em finais de 2007 foi apresentado um microgerador eólico concebido pela investigação nacional. O protótipo saiu do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI), criado por uma equipa liderada por Ana Estanqueiro. Baptizado como T.Urban, o projecto implicou um investimento de 850 mil euros, 75% suportados pela Agência de Inovação e o restante pelo INETI.
O modelo ficou pronto em Novembro de 2007, coincidindo com a entrada em vigor da regulamentação da microprodução. O microgerador do INETI foi nessa altura simbolicamente instalado na residência oficial do primeiro-ministro, então ocupada por José Sócrates, onde ainda hoje se encontra em funcionamento.
Na altura foi oficialmente anunciado que o modelo entraria em produção em série no ano seguinte o que, segundo apurou o PÚBLICO, nunca chegou a acontecer. É nesta fase que se encontra agora o WindGEN3000. A diferença é que os magros custos de desenvolvimento têm saído do esforço dos jovens empreendedores e o plano de investimento aponta para a necessidade 160 mil euros para pôr em andamento o processo de fabricação em série. O preço final será definido em função do modelo e dimensão do negócio que venha a ser criado.