Os bilhetes-postais que o robô Curiosity já mandou de Marte

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Nas primeiras imagens panorâmicas de alta resolução, também a preto e branco, em primeiro plano vê-se parte do robô, que é um monstro metálico. Nunca antes uma máquina tão grande tinha ido para outro planeta. Com quase uma tonelada, é do tamanho de um carro, tem seis rodas e dez equipamentos científicos.

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E depois de se passar os olhos pela planura de um chão repleto de pedrinhas, da imagem panorâmica, tirada por uma câmara no mastro do robô, sobressai ao longe a encosta da cratera onde pousou esta sofisticada máquina da NASA. A cores, essas pedras são ainda mais evidentes. O Curiosity está dentro da cratera Gale, com 154 quilómetros de diâmetro, que a colisão de um meteorito há 3000 milhões de anos escavou, e é um dos pontos mais baixos do planeta.

Os cientistas desconfiam de que a Gale já esteve cheia de água, formando um lago gigante, quando Marte foi, tanto quanto se pensa, um planeta húmido. Hoje, é um mundo árido, com temperaturas que vão dos 128 graus Celsius negativos nos pólos aos 27 graus positivos no equador e que é conhecido pelas tempestades de poeiras com dimensão planetária.

O grande mistério é se alguma vez teve vida, mesmo que microscópica, ou se ainda tem, escondida e protegida no subsolo. É para responder a esta pergunta fundamental sobre Marte que a estratégia da agência espacial norte-americana NASA é a de "seguir o rasto da água", considerada essencial para a existência da vida.

Assim enfiado na Gale, o Curiosity tem como alvo principal uma elevação no interior da cratera, o monte Sharp, e é para lá que irá dirigir-se. Em relação à base da cratera, este monte eleva-se a 5,5 quilómetros.

Ora o monte Sharp pode ser um livro com a história de Marte, se nos seus depósitos, acumulados ao longo de milhões de anos, já depois da formação da cratera, os cientistas conseguirem ler os registos de um passado húmido. Observações de sondas em órbita sugeriram que, nas camadas mais baixas do monte Sharp, e por isso depositadas há mais tempo, se encontram sulfatos e argila, o que aponta para a presença de água.

Comportando-se como um geólogo e um químico, o Curiosity irá subir as encostas do Sharp, que são pouco íngremes. Um dos seus instrumentos é um laser que dispara à distância, para ler a composição química das rochas, o primeiro do género em Marte, e é impossível não pensar logo em filmes de ficção científica. Outro instrumento, no braço robotizado, junta o solo, desfaz rochas e leva essas amostras para análises em laboratórios no robô.

Mas o bilhete-postal que muita gente Terra fora queria mesmo receber do quarto planeta escreve-se com poucas palavras: "Há vida em Marte!" Nesse dia, se estivesse vivo, Carl Sagan teria de rever pelo menos uma das histórias no seu livro Cosmos e que, desde os primeiros aparelhos no solo marciano, as Viking, em 1976, ainda se mantém actual: um editor de um jornal enviou um telegrama (quando isso era a prática) a um astrónomo com o pedido para escrever 500 palavras sobre a vida em Marte. Prontamente, o astrónomo escreveu as 500 palavras: "Ninguém sabe, ninguém sabe, ninguém sabe..."

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