Da minoria de portugueses que planeia fazer férias durante o Verão, metade fica em casa, ou seja, em ‘staycation’, um conceito nascido nos Estados Unidos há poucos anos, mas ainda sem ser um negócio turístico, segundo disse o investigador José Manuel Simões, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa e doutorado em Turismo, citando o estudo do Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo sobre a intenção de férias para o Verão de 2012 de residentes em Portugal continental.
Do inquérito a 500 pessoas, 53% afirmam não gozar férias entre Junho e Setembro e dos 47% que o planeiam fazer vão ficar em casa. “Comparando com os resultados de 2011, observa-se um aumento dos turistas que declaram estar em férias, mas destes, teremos menos turistas a passar férias fora de casa”, lê-se no documento do Instituto de Turismo.
Os destinos para fora de casa são o Algarve, o Porto e Norte, o Alentejo e o Centro do país, enquanto as viagens para o estrangeiro parecem restringir-se à Europa, nomeadamente Espanha. O investigador indicou que o conceito ‘staycation’, que em tradução literal são férias de ficar, surgiu há poucos anos nos Estados Unidos com a crise financeira, as “nearcation”, ou seja, ficar perto, os ‘switchers’, uma definição mais usada a nível internacional para denominar quem troca de casa.
Crise agrava a situação
Gozar férias em casa relaciona-se com “razões económicas”, mas também por “opção”, salientou o professor universitário à Lusa, lembrando que não é novo as pessoas irem à praia perto da residência e para casas de familiares. “A crise agravou a situação”, resumiu José Manuel Simões, acrescentando que ficar nas grandes cidades em Agosto começa a ser opção para aproveitar o dia-a-dia “mais calmo”, assim como intercalar as férias e não passar um mês na praia.
O investigador admite que em breve surjam estudos sobre a “emergência de novas modalidades” de fazer férias, indicando, porém, que o ‘staycation’ ainda não tem a força de negócio a nível do Turismo. Mas há já novas ofertas como os passeios pedestres, as caminhadas, as actividades radicais, as ofertas de tratamentos e massagens nos hotéis e os destinos rurais de curta duração.
“Não há turismo sem lazer, mas pode haver lazer sem turismo”, lembra o docente para quem as agências de viagens têm de mudar porque os turistas que vão para o estrangeiro já marcam quase tudo através da Internet. Jorge, 45 anos, técnico no Ministério da Justiça lembra que nos “bons e não-tão-velhos-assim tempos pré-troika” o hábito era gastar o subsídio de férias familiar em férias quer em Portugal quer no estrangeiro.
“Este ano, graças às medidas que o primeiro-ministro disse que nunca tomaria, limitar-me-ei a passar uns dias no Gerês em casa de familiares”, previu o técnico, referindo que mesmo a ida aos festivais de Verão de música depende se conseguir “alojamento grátis” junto a Paredes de Coura.
Depois de várias deslocações no ano passado ao Reino Unido, Joana, de 36 anos, vai limitar as férias de 2012 a “passear pela cidade, arredores e umas idas ao Meco”, onde tem casa alugada ao ano. “Este ano as férias são diferentes porque mudei de casa e deixei de ter disponibilidade financeira para viajar”, conta à Lusa a assistente de apoio informático de Lisboa.
Nuno, de 45 anos, indica que as férias de 2012 são entre a sua residência no Porto e deslocações para casas de familiares para Tomar e Oeiras. E se em 2011 houve viagem para Dublin e umas “voltas em Lisboa e em Sintra”, este ano “foi atravessar a rua para ir para a praia”. O gestor de projetos de tecnologia de informação justifica as alterações “devido a cortes elevados nos ordenados e não ter não dinheiro para ir para fora”.