Kofi Annan abandona mediação internacional para a Síria

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Kofi Annan anunciou que não quer renovar o seu mandato, que termina a 31 de Agosto Fabrice Coffrini/AFP

Annan informou a ONU de que não tem intenção de renovar o seu mandato, que termina no final deste mês, adiantou o secretário-geral da ONU em comunicado. A decisão foi tomada após o fracasso do plano de paz de seis pontos proposto por Annan, que implicava um cessar-fogo que chegou a ser aceite pelas autoridades sírias em Abril mas nunca chegou a ser cumprido.

Pouco depois de ser anunciada a demissão, Annan disse durante uma conferência de imprensa em Genebra que considera não ter recebido "todo o apoio que a causa merecia". E adiantou: "Houve divisões no seio da comunidade internacional. Tudo isso complicou a minha tarefa."

A violência na Síria já se prolonga há 16 meses e causou cerca de 20 mil mortos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. No plano diplomático também já fracassaram três tentativas de fazer aprovar resoluções para pôr fim ao conflito no Conselho de Segurança da ONU, que foram vetadas pela China e pela Rússia. Moscovo opõe-se à aplicação de sanções e a qualquer solução que passe pelo afastamento de Bashar al-Assad.

A decisão de Annan é conhecida no mesmo dia em que se espera que a Assembleia Geral da ONU aprove uma resolução a condenar Assad e a lamentar o fracasso do Conselho de Segurança em encontrar uma solução para travar a violência na Síria.

Annan tinha sido nomeado enviado da Liga Árabe e da ONU a 23 de Fevereiro e o seu plano de paz previa, para além do cessar-fogo, o início do diálogo com vista a uma transição política na Síria.

Ban Ki-moon lamentou a sua demissão e manifestou “uma profunda gratidão pelos esforços corajosos e determinados” de Annan. Anunciou ainda que estão a ser estabelecidos contactos com o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, para que seja nomeado um sucessor “que prossiga este esforço de paz fundamental”.

Na conferência de imprensa em que confirmou a sua decisão, Annan defendeu que é necessária “uma actuação urgente na Síria” e disse que lhe foi “impossível” levar as autoridades sírias e a oposição ao regime de Assad a dar os passos necessários para um novo processo político. Mas considerou que “a Síria ainda pode ser salva da pior calamidade – se a comunidade internacional puder mostrar a coragem e a liderança necessária para se comprometer com os interesses do povo sírio, com os homens mulheres e crianças que já sofreram muit”. E não poderia ser mais claro quanto a Assad ao dizer que o Presidente sírio “vai ter de deixar o poder, mais cedo ou mais tarde”.

A sua demissão suscitou diversas reacções. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, responsabilizou a China e a Rússia pela demissão do antigo secretário-geral da ONU na sequência do seu veto no Conselho de Segurança. E a Rússia, por sua vez, disse lamentar a saída de Annan. O embaixador russo nas Nações Unidas, Vitaly Churkin, garantiu que Moscovo apoiou o trabalho do mediador da ONU e da Liga Árabe e, mais tarde, o próprio Presidente Vladimir Putin disse lamentar “profundamente” a saída de Annan, que considerou um diplomata brilhante”. Disse ainda, citado pela agência Interfax, esperar “que continuem os esforços da comunidade internacional para pôr fim à violência”.

Também as autoridades sírias reagiram à demissão do mediador internacional através de um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros onde os “estados que procuram desestabilizar a Síria” são acusados de causar “entraves à missão de Annan”. A contrastar com a violência no terreno e o incumprimento do cessar-fogo, que nunca foi posto em prática, a diplomacia síria adiantou que o país “provou que está totalmente comprometido com o plano de Annan” e justificou a violência com o “empenho na luta contra o terrorismo com o fim de restabelecer a segurança e a estabilidade e proteger os civis.”

No dia em que Annan anunciou a sua demissão continuaram os confrontos em Alepo, a capital comercial da Síria, depois de, em Damasco, as forças de Assad terem realizado duas operações militares em que morreram pelo menos 70 pessoas, segundo a oposição.

Notícia actualizada às 19h45
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