Junta músicos israelitas, palestinianos e de outros países árabes e chama-se Orquestra Divan Oriente-Ocidente. "Fundámos esta orquestra como um fórum onde jovens músicos israelitas e árabes pudessem compreender que somos todos iguais perante Beethoven", disse Barenboim depois da morte de Saïd em 2003.
O prémio, no valor de 250 mil euros, é “atribuído a uma instituição ou a uma pessoa, portuguesa ou estrangeira, que se tenha distinguido pelo seu papel na defesa dos valores essenciais da condição humana”, lê-se no comunicado divulgado pela Gulbenkian esta quarta-feira. A distinção substitui, pela primeira vez,os cinco prémios Gulbenkian atribuídos entre 2007 e 2011, nas áreas dos Direitos Humanos e Ambiente, da Arte, Ciência, Beneficência e Educação.
O júri, presidido por Jorge Sampaio, escolheu a Orquestra Divan Oriente-Ocidente como forma de “celebrar o poder de comunicação universal da música e a sua capacidade de transcender divisões e conflitos”. A decisão de um júri também composto pelo ex-Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, a princesa Rym Ali da Jordânia, fundadora do Jordan Media Institute, António Sampaio da Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, e muitos outros, quis ser "uma chamada de atenção para um conflito que grassa há décadas e se repercute numa região inteira”.
Professor de literatura comparada e combatente palestiniano no exílio, Saïd acreditava que a cooperação, através da música ou de outras formas, podia ser parte da solução para o conflito do Médio Oriente. É dele a frase: "A separação entre povos, a guerra entre povos, não é uma solução para o problema que os divide." E foi dele a primeira ideia de criar esta orquestra, antes de desafiar Barenboim.
Para Barenboim, maestro e pianista judeu nascido na Argentina e que à nacionalidade israelita juntou recentemente o passaporte palestiniano, “o conflito no Médio Oriente precisa de mais do que de uma orquestra”, disse em 2009 numa conversa com o público, num pequeno auditório da Fundação Gulbenkian, em Lisboa por ocasião do lançamento do seu livro.
Barenboim em Gaza e Ramallah
O maestro já em 2007 estivera em Lisboa para um concerto com a Orquestra Divan Oriente-Ocidente no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian. Nesse mesmo ano, Daniel Barenboim conduziu um concerto na Faixa de Gaza, uma estreia na música clássica para aquele território. Acompanhado por músicos de orquestras europeias, furou o bloqueio israelita ao enclave e entrou pela fronteira egípcia. "O nosso conflito é o de dois povos que estão convencidos que têm direito ao mesmo pedaço de terra, por isso os nossos destinos estão ligados", disse na ocasião.
Carregado de grande simbolismo foi também o concerto que Barenboim dirigiu pela primeira vez em Ramallah, na Cisjordânia. No próximo mês, a sua orquestra tem actuações previstas no Festival de Salzburgo.
"Para os criadores da Orquestra, a única convicção política sobre o conflito do Médio Oriente é a de que nunca será resolvido pela via militar", lembrou o júri do Prémio Calouste Gulbenkian. "Acreditando que os destinos dos dois territórios estão ligados para sempre, Saïd e Barenboim quiseram mostrar, com esta Orquestra, que só construindo pontes se pode encorajar as pessoas a ouvirem os dois lados do conflito."