“Temos de pensar muito bem antes de fazer o que quer que seja a esta cara tão familiar”, disse numa conferência em Roma a conservadora de desenho e gravura do Castelo de Windsor, Jane Roberts.
Os historiadores de arte e técnicos de restauro que examinaram o desenho de 33,5X21,6 centímetros defendem até que a obra nunca mais venha a ser exposta sem grandes restrições de acesso (poderá apenas ser vista por poucas pessoas e por períodos muito curtos). “É muito assustador lidar com uma obra de arte desta magnitude, única”, acrescentou também à Reuters a directora do instituto de conservação e restauro de arquivos e livros italiano, Maria Cristina Misiti.
O desenho de Leonardo, feito a giz vermelho sobre papel, está a ficar coberto de pontos e manchas, que podem dever-se à oxidação do pigmento que o pintor usou no auto-retrato ou a fungos no próprio papel que lhe serve de suporte. O seu estado de conservação terá sido muito afectado quando foi emoldurado e exposto a partir de 1929, recebendo luz directa. A obra, que pertence à Biblioteca Real de Turim há quase 100 anos, é hoje guardada num cofre em absoluta escuridão, com temperatura e humidade controladas.
Os especialistas estão ainda a ponderar uma intervenção de restauro de emergência, uma decisão difícil de tomar, reconhece Misiti: “Vamos continuar a estudá-lo e a diagnosticá-lo. Todos concordamos neste ponto.” Os cientistas garantem que este Leonardo precisa de “longos períodos de descanso”.
O último restauro de uma obra do pintor italiano – A Virgem e o Menino com Santa Ana, uma pintura do Museu do Louvre – foi alvo de uma intensa polémica, algo habitual sempre que os conservadores mexem numa obra-prima com 500 anos, alterando para sempre o seu aspecto e a memória que dela guardamos.