Milhares de egípcios protestam na Praça Tahrir contra o “golpe constitucional” dos militares
O protesto foi convocado pela Irmandade Muçulmana, teve como alvo o Conselho Supremo das Forças Armadas mas também a candidatura e a declaração de vitória de Ahmed Shafiq. O porta-voz da campanha de Shafiq, Ahmed Sarhan, anunciou durante uma conferência de imprensa transmitida pela televisão que o antigo primeiro-ministro do Presidente deposto pela revolta do ano passado, Hosni Mubarak, “obteve 51,5% dos votos”, depois de Morsi, do partido da Irmandade Muçulmana, o Justiça e Liberdade, também ter reclamado vitória.
A juntar-se à incerteza sobre os resultados das presidenciais está a actuação dos militares, que dissolveram o Parlamento e emitiram um anexo constitucional que lhes confere novos poderes legislativos e afasta o chefe de Estado da liderança das forças armadas. A decisão foi qualificada por vários activistas como um golpe militar e encarada como uma presunção por parte dos militares de que Morsi terá ganho as eleições, tendo a Irmandade Muçulmana respondido com um apelo a novos protestos.
Na Praça Tahrir voltou a ouvir-se “Abaixo os militares”. Os manifestantes desfilaram em direcção ao Parlamento, apesar de os militares terem reiterado que pretendem entregar o poder ao futuro Presidente antes do final de Junho. Mas o facto de o Parlamento, que era dominado por islamistas, ter sido dissolvido, deixa o novo chefe de Estado com uma escassa margem de manobra.
A manifestação foi também convocada por várias organizações que estiveram na origem da revolução no Egipto, incluindo o Movimento 6 de Maio. A Praça Tahrir voltou a encher-se de bandeiras do Egipto, mas também de fotografias de Morsi e o símbolo da Irmandade Muçulmana.
Os resultados das presidenciais deverão ser anunciados na quinta-feira, e se a candidatura de Shafiq garante ter ganho por cerca de 500 mil votos, também o Partido Justiça e Liberdade avança com uma vitória por 51,7%.
Com a dissolução do Parlamento está também invalidado o resultado das legislativas que decorreram entre Novembro e Janeiro. Para além disso, os militares, através do anexo constitucional que anunciaram, ficam encarregues de redigir a nova Constituição e bloqueiam grande parte das mudanças que o novo Presidente queira introduzir.
A crise no Egipto está a causar uma forte preocupação em vários países e organizações internacionais. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu aos militares que transfiram “a plena autoridade” aos civis e que seja respeitada a vontade dos egípcios.
Os EUA manifestaram uma “profunda inquietação” com os decretos anunciados pelos militares e apelaram à transferência “da totalidade do poder a um governo democraticamente eleito”.
A Amnistia Internacional, por sua vez, alertou para a possibilidade de os poderes que os militares reclamam “abrirem caminho à violação de direitos humanos”.