Morreu o arquitecto Manuel Tainha

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Arquitecto tinha 90 anos Dulce Fernandes

O corpo do arquitecto está em câmara ardente desde as 17h de hoje na Basílica da Estrela, em Lisboa, e o funeral realiza-se na quarta-feira. O corpo sai da Basílica da Estrela para o Cemitério do Alto de São João às 16h15.

“É uma perda irreparável para a arquitectura portuguesa, pelo trabalho de projecto, pelas obras que deixa, entre as mais importantes do século XX em Portugal, obras em contra-corrente e inovadoras em relação ao que era mais comum”, disse à agência Lusa o presidente da Ordem dos Arquitectos, João Belo Rodeia.

Da obra de Manuel Tainha, que se formou em 1950, destacam-se a Pousada de Santa Bárbara (Oliveira do Hospital), a Escola Agro-Industrial de Grândola, as Torres dos Olivais, em Lisboa, e a Faculdade de Psicologia, em Lisboa, que lhe valeu o prémio Valmor em 1991.

O arquitecto Manuel Aires Mateus lembra ainda o percurso de Manuel Tainha como professor. “Ele é o mestre da Faculdade de Lisboa para a minha geração, foi um grande professor de arquitectura”, disse ao PÚBLICO Aires Mateus, recordando que para Tainha “fazer arquitectura era viver”.

“Foi um exemplo extraordinário, um homem forte e possante, tanto a nível físico como anímico”, acrescentou Aires Mateus, para quem a obra de Tainha não foi suficientemente estudada. Mas é uma questão de tempo, a homenagem será feita quando todos perceberem o que vem a seguir”, disse o arquitecto, explicando que quando a arquitectura começou a ser estudada em Portugal “Manuel Tainha já era um grande mestre”.

Manuel Tainha destacou-se ainda no ensaio crítico, “num país em que os arquitectos não gostam muito de escrever”, como sublinhou à Lusa João Belo Rodeia. Na obra “Arquitectos Portugueses Contemporâneos”, o crítico de arquitectura do PÚBLICO Ricardo Carvalho escreveu que o discurso de Tainha, “suportado pelos textos que publicou desde 1958, data em que fundou a revista de arquitectura “Binário”, tornou-se indissociável da sua obra”.

“Num contexto em que poucos arquitectos arriscavam o compromisso da escrita, Tainha tornou-o indissociável da prática. Talvez apenas Keil do Amaral e o mestre Fernando Távora tenham procurado semelhante no panorama português”, escreveu o crítico sobre o arquitecto, que em 2002 recebeu o prémio Jean Tschumi da União Internacional dos Arquitectos pela sua actividade crítica.

Em 2000, Manuel Tainha foi agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique e foi-lhe dedicada uma exposição retrospectiva na Casa da Cerca, em Almada, e em 2007, o arquitecto doou o seu espólio à Fundação Calouste Gulbenkian, reunindo mais de 50 anos de trabalho na arquitectura.

Em comunicado, o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, lamentou a morte de um arquitecto que era “indiscutivelmente um dos maiores mestres da arquitectura portuguesa”.

Para Manuel Tainha, “o moderno e o popular nunca chocaram, antes se encontraram sempre num diálogo harmónico”, disse o secretário de Estado da Cultura na mesma nota de pesar.

Notícia actualizada às 19h20