Diogo tem 23 anos e encara a esclerose múltipla mais como "um desafio" do que uma doença

Esta quarta-feira é o dia mundial da esclerose múltipla. Diogo Tavares mostra a realidade de uma doença que afecta cerca de cinco mil pessoas em Portugal

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Diogo estuda Design de Comunicação na Escola Superior de Design do Porto DR

A esclerose múltipla (EM) ainda não tem causas conhecidas, apesar da suspeita de se tratar de uma doença auto-imune. Esta doença inflamatória afecta jovens adultos, entre os 20 e os 40 anos. Em Portugal, há cerca de cinco mil casos diagnosticados. Diogo Tavares tem 23 anos e faz parte deste número, mas encara a EM mais como um desafio do que como uma doença, que o leva a gastar a energia que tem em "coisas positivas".

Tinha 19 anos quando lhe diagnosticaram a doença. Uma ida de bicicleta de Matosinhos ao Porto, que culminou numa fadiga extrema e uma dormência que se alastrava do pé ao joelho, levou-o ao hospital, onde fez uma punção lombar e alguns exames que levaram ao diagnóstico de esclerose múltipla.

No primeiro ano com a doença, Diogo quase esqueceu que tinha EM. "Eu achava que era indestrutível, que quem mandava na minha vida era eu, não era o meu problema. No ano seguinte, bati com a cabeça na parede." Foi obrigado a alterar o seu modo de vida, porque "a doença atacava", apesar de até agora ainda não ter desenvolvido nenhum grau de deficiência. "Nestes últimos dois anos, o que sinto mesmo é muita fadiga", explica.

Uma doença ainda pouco conhecida

Devido ao desconhecimento que há em relação a esta doença, é impossível prever a forma exacta de como vai ser a evolução da Esclerose Múltipla em cada pessoa. Enquanto cerca de 45% das pessoas não são muito afectadas e conseguem manter uma vida normal e produtiva, 40% é afectada progressivamente. Cerca de 15% destas pessoas vai sofrer uma incapacidade grave, que pode afectar permanentemente a mobilidade, por exemplo.

Um parágrafo não chega para enumerar os sintomas possíveis. Visão turva, problemas de equilíbrio e coordenação, espasmos e tremores, rigidez nos músculos ou, ainda, impotência, dificuldade de articulação no discurso e problemas da bexiga e dos intestinos são apenas alguns dos possíveis indícios, que dependem das áreas do sistema nervoso que foram afectadas. Diogo decidiu não pensar nisto. "Eu penso é em viver ao máximo o meu dia-a-dia, sem pensar muito no que pode vir a acontecer amanhã. Ter uma atitude positiva é meio caminho andado e este processo ensinou-me que tenho de viver um dia de cada vez", diz.

O que realmente preocupa Diogo, a estudar Design de Comunicação na Escola Superior de Design do Porto, é, por vezes, não conseguir cumprir horários nos trabalhos da faculdade, "por causa do cansaço". "E custa-me, às vezes, perceber que as pessoas não entendem, por ignorância (em relação à doença). Às vezes as pessoas são maldosas sem querer", conta. "Como não tenho nenhum tipo de sintoma mais notável, é fácil pensar que estou a mentir ou a aproveitar-me da situação", conta. O estatuto de doente crónico ajuda bastante neste processo, mesmo que às vezes seja "difícil conciliar muitas tarefas diárias".

Apesar de alguns momentos mais complicados, Diogo tem sido sempre bem sucedido. "Posso nem sempre tirar as notas mais brilhantes, mas tenho cumprido sempre os meus objectivos", conta. Nem por isso deixa de ouvir "comentários infelizes". "Já houve até alguns casos de me colocarem a hipótese de me reformar, ou pedir uma pensão por invalidez, mas isso não é para mim", afirma. No entanto, muito disto se deve à "família espectacular, que é fundamental", "aos melhores amigos que podia ter" e à "namorada impecável". "Estas pessoas nunca me falham", confessa.

A esclerose múltipla origina, muitas vezes, depressão e alguma retracção no que toca ao relacionamento com outras pessoas, mas isto parece não acontecer com Diogo e a namorada. "Enquanto amigos, eu contei-lhe o que tinha. Ela foi logo ler mais sobre isso, para perceber o que era a minha doença e não tem problema nenhum. Às vezes eu é que complico as coisas, acho que as pessoas não me compreendem, mas não é bem assim", explica. Em relação ao futuro, ainda não pensam nisso. "Não há sentenças finais, numa doença como esta", afirma.

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