Presente: está quase a terminar o curso de Medicina, tem 23 anos e uma vida pela frente. Passado: aos 17, foi-lhe diagnosticado um cancro do ovário. Sara Sarmento soube muito nova o que era ter um tumor. Mas é com um sorriso que nos conta a sua história. Até porque, para Sara, os jovens têm todas as condições para enfrentar esta realidade, uma vez que reagem melhor aos tratamentos.
“Descobri quando fui à minha primeira consulta de ginecologia. A médica detectou uma massa no ovário esquerdo e disse-me que tinha rapidamente de fazer alguns exames. Fiquei assustada e nunca pensei que fosse nada tão sério”, explica a estudante que está ser acompanhada pela médica Deolinda Pereira, uma das pessoas envolvidas no estudo sobre o cancro do ovário que ganhou recentemente o prémio Sanofi Oncologia 2011.
Alguns dias após a consulta, Sara soube que teria de ser submetida a uma cirurgia, inicialmente para extrair o ovário e saber o tamanho da lesão. O médico que a operou colocou todas as “cartas em cima da mesa” e explicou os cenários possíveis. O pior que poderia acontecer seria a remoção de todos os órgãos reprodutores, caso o tumor fosse maligno e houvesse outras lesões. E foi o que aconteceu.
“Ouvir uma anedota” na altura do tratamento
“Aquela era a situação melhor para a minha saúde e era uma decisão a tomar na altura”, conta, quanto à sua reacção assim que percebeu o que lhe poderia acontecer.
Depois da cirurgia, seguiram-se seis ciclos de quimioterapia no IPO do Porto. A ajuda dos pais e dos amigos foi muito importante para Sara nessa fase. No entanto, o difícil foi “lidar com a angústia da família. Nós só queremos ouvir uma anedota e custa lidar com a pessoa que acha que temos que estar muito mal porque é uma doença horrível”, desabafa. “Temos de encarar isso de outra forma”, acrescenta.
“E cá estou”, termina. Trata-se de um exemplo positivo de quem teve cancro do ovário e o conseguiu ultrapassar.
“Um susto misturado com surpresa”
Tal como Sara, também Lígia Pereira, de 32 anos, teve de remover todos os órgãos reprodutores devido a esta doença.
“Tinha muitas dores de barriga e fui às urgências. Os médicos mandaram-me para casa. Continuava com dores e fui à minha ginecologia e foi aí que soube”, conta. No período de uma semana foi operada e retiraram-lhe um tumor de nove centímetros, que se acreditava ser benigno. “Não é normal na minha idade ter tumores malignos”, explica, dizendo que os médicos que consultou achavam que não era necessário fazer a cirurgia tão rápido.
“Na altura, é um susto misturado com surpresa. É normal doer a barriga”, afirmou.
Tanto Lígia como Sara, nunca tiveram filhos, mas pretendem adoptar.