Os seus filmes, diz, sao "realistas": "são fimes sobre sonhos, memórias, fantasias, projecções do futuro que nunca acontecem". Carlos Reygadas, cineasta dessa sua realidade, apresentou em concurso "Post Tenebras Lux". Que começa com crianças - os filhos de Reygadas - a certificarem a existência do mundo que está a ser criado: "Árvores! Burros! Cães!". Podia ser os "Encontros Imediatos do Terceiro Grau", onde um miúdo se extasiava com os "Toys! Toys!" do espaço. É isso, encontros imediatos do terceiro grau com o inconsciente de Reygadas, com fantasmas de "home movie", pesadelo mexicano e até um diabo extraterrestre.
Há dois mundos em contacto em "Post Tenebras Lux", o da cidade, de onde uma família saiu, e o do campo, onde se instalou. Em contacto e em choque, uma espécie de devir de aniquilação que ensopa a sociedade mexicana. Reygadas diz que o filme lhe saiu "directamente do inconsciente", das profundezas da infância e das imagens de pesadelos que a sociedade do seu país inculcou. Isso obriga a procurar uma relação diferente com o filme, descodificacao difícil e talvez por isso "Post Tenebras Lux" não gerou a reacção visceral que envolveu "Stellet licht" (2007). Mas não deve haver cineasta hoje a filmar a natureza assim. As crianças "estão", diz ele. "Tal como a água e como as árvores". Como uma catedral, a natureza está.
Nada há a fazer por "The Paperboy", de Lee Daniels, que coloca o seu histrionismo ao serviço do "southern gothic", historia de racismo, assassinato, sexualidade - que tenta libertar a habitualmente gélida Nicole Kidman. Não precisando de ser insuportável como em "Precious", é indigesto.