Pediatra denuncia ruptura de stock de medicamento para a concentração
“As crianças querem estudar e não conseguem. Sem estudo e concentração não conseguem boas notas. Estão a ser empurradas para o insucesso escolar e até para a reprovação” do ano, lamentou o pediatra do desenvolvimento Miguel Palha.
O fármaco em questão é o Rubifen que, tal como os outros dois estimulantes do Sistema Nervoso Central vendidos em Portugal para o aumento e a concentração da atenção, tem como substância activa o metilfenidato. Este medicamento é comercializado pelo laboratório espanhol Rubió e há semanas que começou a faltar nas farmácias portuguesas, que dizem não saber a origem da falha.
O responsável pela exportação do laboratório, Ignácio Lorenço, negou a existência de uma ruptura, mas admitiu “eventuais faltas” relacionadas com a mudança de distribuidor, as quais deverão ser resolvidas “dentro de dias”.
A autoridade que regula o sector do medicamento em Portugal (Infarmed) informou que “o Rubifen encontra-se em ruptura de stock desde o dia 24 de Abril, prevendo-se a sua reposição a 1 de Junho”. O Infarmed adiantou que “existem alternativas terapêuticas disponíveis no mercado – Concerta e Ritalina – relativamente às quais não existe comunicação nem notificação de ruptura de stock”.
Alternativas nem sempre viáveis na opinião de Miguel Palha, que dirige o Centro de Desenvolvimento Infantil “Diferenças”, para quem esta situação é “inadmissível” e só demonstra a “fraca mão” que o Infarmed tem. As características e formas de apresentação dos três fármacos não permitem a sua substituição, apesar de terem a mesma substância activa, sendo preciso uma adaptação do medicamento à criança e encontrar a “fórmula certa”.
Mas há outro factor que, na opinião de Miguel Palha, pode inviabilizar esta simples substituição: o preço. Trinta comprimidos de Rubifen custam 5,64 euros, enquanto a mesma quantidade de Concerta custa 44,84 euros e de Ritalina 19,11 euros. “Já há pais a irem buscar o medicamento a Espanha”, afirmou o pediatra, que recebe diariamente entre 100 a 200 pedidos de substituição de receitas do Rubifen para evitar os danos que a falta do fármaco está a provocar nas crianças.
A situação torna-se especialmente grave nesta altura do ano lectivo, que se aproxima do final. O especialista critica a “atitude complacente do Infarmed” e alerta para o “grave prejuízo” que as crianças vão sofrer.
O Infarmed garante que, para minimizar o impacto desta ruptura, autorizou a importação deste medicamento a partir de outro Estado-membro (Espanha), através de uma Autorização de Utilização Especial. Os efeitos desta autorização ainda não se fazem sentir nas farmácias, nos profissionais e nas famílias em que existe uma criança com Perturbação da Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA).
Maria Santos, mãe de uma criança de 12 anos com PHDA, soube desta falta pela médica do filho que a alertou para a ruptura, a qual confirmou horas depois. Na farmácia onde compra o Rubifen soube que há semanas que este não estava disponível e que já existiam listas de espera. Maria Santos equaciona agora ir a Espanha comprar o fármaco. Sobre a possibilidade de substituir o medicamento, diz que não o fará de ânimo-leve. “Estes medicamentos são fortes e sabemos que, apesar de terem a mesma substância activa, actuam de forma diferente”.
Ideia corroborada por Linda Serrão, presidente da Associação Portuguesa de Crianças Hiperactivas (APCH): “Cada criança tem a sua necessidade e é preciso encontrar a dose certa. Os nossos meninos são muitas vezes cobaias”.