“Esqueçam tudo o que já ouviram — o vídeo 'mapping' não dá vida apenas a edifícios”. Foi assim que o tumblr do Vimeo, onde a equipa lança os preferidos dos preferidos, lançou o último projecto pensado e executado com a assinatura Oskar & Gaspar. “Mudaram as regras do jogo ao transformarem o corpo humano através de efeitos incríveis”.
Em duas semanas, o vídeo teve mais de 40 mil visualizações no Vimeo e o botão “play” foi accionado cerca de 380 mil vezes no YouTube, onde também está alojado o "making of" da campanha Samsung para o lançamento do primeiro smartphone com dois cartões — uma encomenda da Agência Excentric. “Foi uma experiência. E recebemos esse comentário que vale ouro. Subimos a fasquia, mas temos os pés no chão”, respondeu ao P3 Guillaume de Oliveira, gestor do projecto.
Fazemos uma pausa na realidade e entramos no mundo da ficção — não saia do seu lugar, voltamos dentro de momentos. Óscar e Gaspar são dois gémeos. Cresceram em Singapura, sempre estiveram ligados às artes multimédia e, como têm sangue português, fez todo o sentido voltar. Andam na casa dos trinta anos de idade e não gostam de protagonismo. Por norma vestem-se de igual e já usaram máscaras em alguns eventos. Detestam dar a cara. Mesmo.
Provavelmente cruzamo-nos com eles em Junho do ano passado, quando os 35 metros dos muros do Centro Cultural de Belém ganharam vida.
Os gémeos abrem a encomenda, viajam para analisar o local, fotografam, filmam, medem, interiorizam a arquitectura do espaço (com a ajuda da arquitecta Luisa Gago) e geram um imput criativo. Neste trabalho gastaram cerca de dois meses, entre planificação, filmagens, digitalização e tratamento 3D (Maya e After Effects).
Como derreter uma parede
“É uma verdadeira narrativa”, explicou ao P3 Guillaume de Oliveira, que não tem nenhum irmão gémeo. “Não sou nem um nem o outro, mas às vezes fico com os elogios”. Guillaume é o "frontman". É o elo de ligação entre a cabeça dos clientes e a cabeça (as cabeças) dos gémeos. E por falar em cabeças...
Para cozinhar uma “experiência” como esta da Samsung, basta arranjar uma equipa de 12 pessoas, um rosto humano (o Isac, neste caso), uma cadeira moldada à forma do corpo, um molde de gesso para a cabeça e adicionar à receita “um trabalho desgraçado”. “Depois o actor foi digitalizado como num filme de ficção científica. Marcámos pontos na cara e viajámos à volta da cabeça dele”. A viagem durou sete horas (com intervalos).
Detectámos um lado orgânico muito vincado. “É uma das nossas imagens de marca”, responde Guillaume. “Este tipo de ‘mapping’ vive muitas vezes do material abstracto, mas nós não nos revemos nesse estilo. Gostamos de puxar pela inteligência do público, apelamos ao crescimento cultural de cada um. Não passamos seis horas a projectar bolinhas ou manchas de cor. Usamos elementos vivos, encaixamos pessoas, colocamos um sorriso no meio do set e um sorriso na plateia. Não é só bonito. Não é redutor. Podemos derreter uma parede ou transformar uma medusa num pássaro. Tudo depende da interpretação de cada um. É vistoso, mas não é só para encher o olho”.
Os gémeos dizem apostar “na perfeição técnica e na criatividade dos conteúdos”. “Ganhamos menos para podermos contratar colaboradores nas mais diversas áreas”, completa o elemento real da equipa, que projecta ideias e trabalha por encomenda (“Dá para viver do vídeo mapping, mas não dá para parar seis meses para pensar”).
Já viram o vídeo? Podem fechar a boca.