Passou-se outra vez: José António Saraiva voltou a lembrar-nos de como era na Idade Média ou no tempo em que o seu tio era ministro de um governo da ditadura.
Entre devaneios e surpreendentes incorrecções numa análise "à bruta’" dos movimentos sociais e políticos do século XX, o cronista arrisca-se a fazer um diagnóstico vertical de um jovem que viu durante breves momentos num elevador de uma loja e que identifica como "homossexual’". Para além de supor que os seus leitores estão interessados no que pensa em elevadores, o autor quer-nos convencer que há homossexuais que assim o são, porque se convertem a uma "moda" e a uma "pressão do meio em que se movem".
Não creio que Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais precisem de defesa. Por serem-no, não são precários, nem intelectualmente diminuídos, nem uma classe profissional em deterioração; mas isso não me impede de precisar de publicar uma defesa geracional.
Se de outras lutas parecemos estar para já arredados — porque, ao contrário dos tempos de juventude de Arquitecto Saraiva, o direito ao trabalho é-nos negado — de uma coisa podem os jovens portugueses orgulhar-se: constituem um movimento progressista que rejeita o Portugal de antigamente, conservador e dos bons meninos da mocidade. Somos um processo, uma revolução cultural que desde há algum tempo está em marcha e que nunca se viu tão rápida em nenhum outro pais: as mulheres que praticam um aborto não são criminosas, pessoas do mesmo sexo podem-se casar... Orgulho-me disso.
O artigo dizia que a orientação sexual é um produto dos anos 60 e do movimento contestatário. Surpreende-me a imprecisão histórica e a associação ao pós modernismo pois apaga, num ápice, o cultura Romana e outras, ou a crítica dos colonizadores espanhóis às práticas homossexuais dos Astecas na América pré-colombiana, entre uma infinidade de exemplos possíveis.
Por opção própria, a democracia rejeitou sanear as heranças reaccionárias (as que conduziram o país à miséria); acharam que fazem parte da heterogeneidade de um país plural os que querem um país singular. Singular e monocromático. Em situações normais tendo a estar de acordo: temos que os deixar desaparecer com dignidade. Mas quando os ouço, convenço-me do contrário: vamos mudá-los, não vamos desistir de negar esta ideia excessivamente antiga (são as piores) de que a homossexualidade é uma doença.
José António Saraiva escreveu uma crónica que não respeita o artigo 13º da Constituição mas que não respeita, fundamentalmente, a geração que piedosamente tolera a sua intolerância; tolera, por enquanto, porque quando deixar de o fazer vai reposicionar a doença da homossexualidade: passará a estar nos que não acompanharam a evolução da espécie e chamar-se-á homofobia.