Mário Trindade: “Descobri que podia continuar a correr”

Aos 36 anos, o atleta de Vila Real detém as melhores marcas dos 100 e 200 metros, na classe T53, e já consta nos recordes do Guinness

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Mário Trindade é mais um anónimo de sucesso. Em abono da verdade, não é totalmente desconhecido do público português, mas já lá iremos.

A ligação ao atletismo começou aos 10 anos e só viria a ser interrompida 8 anos mais tarde. Uma cirurgia que se previa sem riscos para debelar a escoliose (desvio da coluna vertebral) de que padecia não correu como desejado e Mário ficou paraplégico.

Perante as adversidades, o atleta respondeu com o seu carácter perseverante e estava para breve a estreia de um dos maiores valores do desporto adaptado nacional. A prática desportiva passou rapidamente de um cenário impensável para se tornar num dos pilares da sua vida. “Quando fiquei paraplégico desconhecia que era possível praticar desporto, mas um dia um colega meu, também deficiente motor, que praticava basquetebol em cadeira de rodas, convidou-me”.

Durante 10 anos prosseguiu a carreira basquetebolística, mas não era esta a paixão de Mário. “Descobri que mesmo numa cadeira de rodas podia continuar a correr e tudo fiz para conseguir uma cadeira. A APD Braga emprestou-me uma já usada, velhinha”. A necessidade de comprar uma nova cadeira levou-o a ser protagonista numa reportagem televisiva. “A reportagem ainda não tinha acabado e já me estavam a ligar a dizer que me ofereciam a cadeira de rodas de 5000 euros”, conta.

A boa vontade dos espectadores não teria porém continuidade no apoio federativo, que em nada orientou o jovem atleta sobre onde podia competir. “Disseram-me que não sabiam, que tinha de ser eu a descobrir. Por aqui se vê o apoio que os deficientes têm para a prática desportiva”, lamenta o velocista.

A falta de apoio funcionou como alerta para Mário. Cerrou os punhos, foi à luta e saiu recompensado, tornando-se recordista dos 100 e 200 metros, no escalão t53 – destinado a paraplégicos -, desajustado, no entender do atleta, à gravidade da sua patologia.

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Quando ficou paraplégico, Mário Trindade desconhecia que podia praticar desporto DR

Recorde para sensibilizar a comunidade

Contudo, o reconhecimento do mérito dos atletas com deficiência continua a ficar aquém das expectativas e o atleta natural de Vila Real recorre ao país vizinho para mostrar as diferenças. “Há uma prova que costumamos fazer em San Sebastian, que é duríssima, parece mais uma prova de montanha do que de estrada, fazemos 20 km e chegamos ao fim com a sensação de que não nos cansamos”, tal o entusiasmo do público à passagem dos atletas, com e sem deficiência. 

Disposto a mudar a mentalidade face à deficiência e movido por um outro desejo particular, Mário Trindade decidiu, no dia 3 de Dezembro de 2007 (dia internacional da pessoa com deficiência), tentar bater o recorde da maior distância percorrida em cadeira de rodas, no máximo de 24 horas. A proeza não se adivinhava fácil, mas após 18 horas e 53 minutos, o corredor português entrou para o Guinness, uma vez percorridos 182 quilómetros e 800 metros.

O feito permitiu a compra de uma carrinha para duas irmãs com osteogénese imperfeita, doença rara caracterizada pela fragilidade dos ossos. “Quando soube deste caso não consegui ficar indiferente e tentar pôr-me no lugar delas deu-me força mais que suficiente para bater o recorde”.

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