Luís Gonçalves: “Treinamos como os olímpicos”

É o primeiro português medalhado na British Paralympic World Cup, prestigiada competição internacional, e, em 2008, foi prata em Pequim

Luís Gonçalves diz ser impossível um atleta com deficiência dedicar-se ao desporto a tempo inteiro DR
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Aos 18 anos, Luís Gonçalves deixou Portalegre à procura de um futuro profissional. Lisboa foi o destino escolhido para tirar uma formação de auxiliar de fisioterapeuta e massagista, mas entretanto o desporto cruzou-se com a sua vida. “Desde pequeno que gosto de atletismo e quando cheguei a Lisboa, perguntei a um colega onde se podia praticar desporto para pessoas com deficiência visual e ele indicou-me a equipa da ACAPO”, conta ao P3.

Os cinco anos seguintes foram de verdadeiro rebuliço. Num ápice, Luís Gonçalves – que padece de retinosquise (doença rara que se caracteriza pela divisão da retina) -, transformou-se num atleta paralímpico de referência, mas antes da glória, experimentou o lado ingrato do desporto de alto rendimento. “Comecei a treinar em Abril de 2006, dois meses depois fui fazer mínimos para o campeonato do mundo do IPC – International Paralympic Committee. Só que a 2 semanas da partida lesionei-me. Foram cerca de 11 meses de paragem por completo.”, lembra.

Em 2007, o corredor alentejano regressa às pistas e após “3 meses complicados”, qualificou-se para o Campeonato do Mundo da IBSA – International Blind Sports Federation. Desde então, a carreira descolou. Com apenas 20 anos, conquistou a medalha de prata nos Jogos Paraolímpicos de Pequim, na prova de 400 metros do escalão T12 – destinado a amblíopes; sagrou-se campeão da Europa e detém o impressionante estatuto de bicampeão do mundo, fruto das vitórias nos campeonatos do mundo da IBSA, na Turquia, e do IPC, na Nova Zelândia, em 2011.

Antes, em 2010, alcançou um feito inédito para o desporto adaptado nacional ao arrecadar, na British Paralympic World Cup, a medalha de ouro e a medalha de prata, nas provas de 400 e 200 metros, respectivamente.

Como em qualquer caso de sucesso, há uma rotina de treino árduo e “invisível” aos olhos do público. Luís está a concluir o 12º ano, “que era o que já devia ter feito há muito tempo”, afirma com um riso malandro, e concilia as aulas com três sessões diárias de treino. 

“Levanto-me às 6h00 para fazer o meu treino de resistência, passo a manhã nas aulas; a meio da tarde, entre as 3 e as 4 e 30, tenho uma aula de pilates que serve de recuperação, e, no fim da tarde, faço a parte específico do treino que será em pista ou no ginásio, terminando por volta das 8 e 30 da noite.”

Olímpicos vs Paralímpicos

Embora se assuma “basicamente como atleta profissional”, Luís Gonçalves tece críticas à forma como o governo português encara o desporto adaptado. “Isto, para o Estado, não é alta competição, é reabilitação”, lamenta. O atleta foca as discrepâncias também a nível económico. “Um atleta olímpico de nível A – medalhado - recebe 1600, 1700 euros mensais. Os atletas paraolímpicos de nível A recebem 450 e não são pagos há 6 meses. É impossível alguém se dedicar ao desporto como profissional”, disparou.

Em contraponto, o velocista dá como exemplo a selecção espanhola paraolímpica, cujos “fisioterapeutas, médicos e atletas foram dispensados (dos seus empregos) para se prepararem a tempo inteiro para os Jogos de Londres” e remata: “Nós treinamos tal e qual como os olímpicos, sofremos como eles, quer chova ou faça sol e isso não é reconhecido pelo nosso governo”.

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