Quase toda a poupança em Portugal é feita por apenas 20% das famílias

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Foto: Daniel Roland/AFP

Na prática, isto significa que um quinto das famílias portuguesas é responsável pela esmagadora maioria da poupança feita no país, cuja taxa de poupança caiu de quase 24% do rendimento disponível, em 1985, para 10%, no final dos anos 90.

“Desde então tem estado estável, à excepção do período entre 2005 e 2008, no qual baixou para 7%. Esta queda terá resultado do aumento da taxa de juro neste período, à qual as famílias terão reagido, dado o elevado nível de endividamento, com a redução da poupança, em vez de reduzirem o consumo”, lê-se no estudo conduzido por vários especialistas das universidades do Minho e de Coimbra, e que contou com a supervisão do presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), Pedro Seixas Vale, e dos economistas Miguel Cadilhe e João Talone.

No extremo oposto, existem 30% de famílias em Portugal que apresentam uma taxa de poupança negativa, isto é, gastam mais do que aquilo que ganham.

“Recuperar a importância da poupança”

“A queda da taxa de poupança contribuiu para os desequilíbrios económicos que se avolumaram nos últimos anos e que resultaram na crise da dívida soberana”, alertam os autores do estudo, explicando que “os países com crises da dívida soberana partilham tendências decrescentes da taxa de poupança”.

E consideram que “a saída da crise da dívida soberana, que limitou as possibilidades de financiamento externo da economia portuguesa, ameaçando estrangulá-la, terá de passar pela recuperação da importância da poupança no discurso e na prática dos portugueses”.

O estudo aborda ainda o papel do Estado na promoção da poupança. “Dada a sua contribuição fortemente negativa para a poupança nacional, pensamos que o melhor contributo que o Estado poderá dar para o desígnio do aumento da poupança da economia portuguesa será ele próprio poupar”, defendem.

“Um segundo contributo seria todas as medidas de política económica terem em consideração o seu impacto sobre a poupança” e “um terceiro contributo seria a defesa da estabilidade e previsibilidade das políticas de promoção de poupança que forem adoptadas, condição essencial para o seu sucesso”, realçam os especialistas.

Alterações nos certificados de aforro “incompatíveis” relação de confiança

Segundos os autores, “alterações como as que tiveram lugar, em 2006 e 2008, na remuneração dos certificados de aforro são incompatíveis com a existência de uma relação de confiança entre o Estado e os aforradores”.

Ainda assim, “as perspectivas de recuo do Estado Social, motivadas pelas dificuldades de financiamento do Estado e pela dinâmica demográfica, e o aumento das restrições no acesso ao crédito, dois dos principais factores explicativos da quebra da taxa de poupança nas últimas décadas em Portugal, e nos países desenvolvidos, bem como a imperiosa necessidade de reduzir o défice externo, sugerem que a taxa de poupança poderá conhecer uma tendência crescente nos próximos anos”, dizem os autores.

E concluem que “os indicadores económicos indiciam que essa tendência poderá estar já a ocorrer”.