Convirá olhar um bocadinho para lá de “A Mulher de Negro” ter no papel principal Harry Potter, ou antes, Daniel Radcliffe. Não que ele vá mal (não vai nada mal), mas porque esta história quase gótica de fantasmas na Inglaterra eduardiana, dirigida por uma das recentes revelações do cinema de género inglês (James Watkins, de “O Lago Perfeito”), é um simpático exercício de fantástico à moda antiga, que acredita mais em criar ambientes e gerir inquietação do que em sacar sustos à pressão a cada cinco minutos. A história de um jovem advogado de luto que uma viagem profissional para tratar de uma herança leva a uma aldeia sob o peso de uma superstição é fita que pouco ou nada traz de novo ao género, mas que é trabalho limpo, escorreito, com uma certa elegância no modo como tudo é encenado em contenção mais do que em emoção, com uma clara inteligência no modo como aproveita o cuidado trabalho de fotografia e cenografia para instalar uma atmosfera de sonho mau. Não se descobre por aqui a pólvora, mas se a maior parte do fantástico contemporâneo fosse assim não estávamos mal.
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