Reportagem: xenofobia e racismo crescem entre os jovens russos

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Foto: Sergei Supinsky/AFP

Ekaterina tem 23 anos, está a terminar um mestrado em Relações Internacionais. Pensa que não terá dificuldades em encontrar emprego quando concluir os estudos, acredita no desenvolvimento e prosperidade da Rússia, mas acha que um dos principais problemas do país são os imigrantes.

"Conheço uma família que alugou um quarto da casa a um imigrante do Cazaquistão. Passado um mês, sem que pudessem fazer nada, já não era só aquela pessoa, mas uns 20 familiares dela que viviam no quarto. E a polícia não pode agir, porque diz que eles têm direito de fazerem o que querem."

Ekaterina apoia Vladimir Putin, porque o considera o único candidato presidencial capaz de unir a Rússia, mas o seu político preferido é Vladimir Jirinovski, líder do nacionalista Partido Liberal Democrático. "É o único político carismático, que sabe o que diz e cativa as pessoas quando fala. Principalmente os jovens. Faz-nos sentir amor pela Rússia, e coloca correctamente o problema da imigração, que deveria ser controlada."

Sergei, 30 anos, programador informático, também vê na imigração um dos problemas do país, e por isso não apoia Putin. Tem até participado nas manifestações contra ele. "Putin representa a corrupção e a traição à pátria", diz. "Está a vender o país aos interesses estrangeiros. Submete-se aos Estados Unidos, não protege a Rússia e os russos das outras potências, das outras raças, das outras religiões."

Sergei considera que a cidade de Moscovo está a ser perigosamente invadida por estrangeiros. "Dantes podíamos passear à vontade num parque, mulheres e crianças saíam sozinhas, sem medo. Hoje, há zonas da cidade onde os verdadeiros russos estão em perigo. São guetos de outras raças, onde os russos nem podem entrar. Não considero isso correcto. A Rússia deve ser para os russos."

Esse é um dos slogans gritado nas várias manifestações nacionalistas que têm sido organizadas nos últimos anos. Principalmente na de 4 de Novembro do ano passado, onde estiveram pelo menos 7 mil pessoas, incluindo Sergei. Segundo várias sondagens credíveis, entre 50% e 60% dos russos concordam com essa palavra de ordem - "A Rússia para os russos". Mas na manifestação foi também gritado "Rússia livre! Poder russo!", "Imigrantes hoje, ocupantes amanhã!", "Morte aos judeus!" e "Desporto! Saúde! Nacionalismo!"

"Não tenho nada contra os imigrantes, desde que eles cumpram as regras da Rússia, falem a língua, se adaptem à nossa cultura", diz a moderada Ekaterina. Já o mais radical Sergei está convencido de que toda a criminalidade da Rússia é cometida por imigrantes. "Crimes violentos, violações, coisas desumanas", precisa.

O "bronzeado" dos negros

"Há raças menos desenvolvidas. Toda a gente sabe isso. As pessoas no Tajiquistão têm uma cultura menos avançada do que a nossa. Os negros são inferiores. Por que é que nos EUA, apesar de todas as leis de igualdade, eles são mais pobres e constituem a maioria da população das prisões?"

Em Moscovo, alguns spas que querem promover os seus solários colocaram à porta um rapaz negro (geralmente recrutados entre os estudantes africanos que precisam de um emprego em part-time) com um letreiro ao peito dizendo: "Adquiri aqui o meu bronzeado."

Nos trabalhos menos qualificados, como a recolha do lixo, é comum ver pessoas de etnia mongol, ou do Cáucaso, serem maltratados pelos seus superiores. Todos os anos, imigrantes dessas etnias, principalmente das repúblicas ex-soviéticas da Ásia Central, são assassinados às centenas em Moscovo e São Petersburgo.

Em muitos jovens russos, o discurso contra os imigrantes está ligado ao da grandeza da Rússia. Com várias nuances e graus de radicalismo, é uma espécie de ideologia que, segundo vários analistas, domina o país.

É tão generalizada, que ninguém com aspirações de poder se pode dar ao luxo de a hostilizar. Putin, desde que o seu partido, Rússia Unida, sofreu uma quebra de votação, nas eleições para a Duma, tem reforçado os tons nacionalistas do discurso. Nomeou como vice-primeiro-ministro para a indústria da Defesa Dmitri Rogozin, que tinha criado um partido nacionalista, o Rodina (Pátria).

"O próximo século vai ser muito cruel", disse recentemente Rogozin. "Os EUA já não escondem os seus planos hegemónicos, a imigração internacional está a minar a civilização cristã europeia, que atravessa o mais grave declínio da sua História", disse o vice-ministro, para concluir que o Estado deve fortalecer a Rússia e proteger os russos etnicamente puros, porque eles são a maioria.

Mas o movimento da oposição, que tem organizado manifestações contra Putin e a corrupção, a favor da transparência e de eleições justas, está também eivado de nacionalismo. Alexei Navalni, o advogado e blogger que se tornou na figura mais influente do movimento, já usou o seu blogue LiveJornal para convocar manifestações nacionalistas, e produziu vários textos enaltecendo as virtudes da raça russa.

Num país onde há pelo menos 10 milhões de imigrantes, centenas de etnias entre os cidadãos russos e várias repúblicas maioritariamente não-russas e não-cristãs, o nacionalismo surge como a única ideologia, à falta de outra, capaz de mobilizar os cidadãos.

"Não precisamos de imigrantes, devíamos substituí-los por tecnologia", diz Sergei. "Há uma piada entre os empresários da construção civil que diz: "Quarenta tajiques fazem o trabalho de uma grua"."

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