“Cavalo de Guerra” é um reencontro com o Spielberg de fôlego épico, “clássico”, humanista, nesta adaptação do livro juvenil de Michael Morpurgo entendido como glorioso filme de família que a Disney ou a MGM poderiam ter feito. E, por muito que possamos apontar a preguiça narrativa do filme, a sua estrutura demasiado episódica onde alguns interlúdios parecem estar lá só para encher, os lugares-comuns da boa-vontade anti-belicista que percorrem a história de um cavalo que atravessa a I Guerra Mundial, a verdade é que não é isso que faz de “Cavalo de Guerra” digno e honroso membro de corpo inteiro da obra de Spielberg.
É o assombroso classicismo fluido da sua realização, o modo quase orgânico como a câmara está sempre onde tem de estar para surtir o máximo efeito e melhor servir a história que se quer contar, a capacidade sem esforço de definir uma cena ou uma situação de modo puramente visual. Esse virtuosismo quase modesto, essa linhagem de simples tarefeiro Hollywoodiano que Spielberg sempre assumiu está inteirinha aqui, e a sua excelência diz-nos que este filme está bem mais próximo do coração do cineasta do que a experiência virtual do seu “Tintin”. Pode não ser - não é - uma das suas obras-primas, mas há aqui um cineasta que se entrega de alma e coração ao cinema, e isso faz toda a diferença hoje em dia.