“Não apertem mais o cinto, vão apenas travar ainda mais o crescimento”, diz Paul Krugman
“Se os números do Orçamento do próximo ano forem piores do que a previsão, não apertem mais o cinto”, afirma o Nobel da Economia em 2008, que ontem recebeu em Lisboa o grau de Doutor Honoris Causa das universidades de Lisboa, Técnica e Nova.
Krugman alerta que a situação na Europa “está a deteriorar-se” e que “é quase certo que a zona [euro], como um todo, está outra vez em recessão”. Questionado sobre a possibilidade de esta crise terminar num conflito, como sucedeu na II Guerra Mundial, o economista defende que “a primeira coisa a temer é a instabilidade política”. “O conflito vem depois. Sim, devemos receá-lo”, admite.
“As pessoas com opções estão em Berlim e em Frankfurt”, sublinha, acrescentando que “a Alemanha não devia estar a adoptar políticas de austeridade”. “Se tivéssemos políticas muito mais expansionistas, tanto a nível orçamental como monetário, na Europa do Norte, a situação de países como Portugal seria muito mais fácil.”
Quanto à situação específica nacional, salienta que o país está numa “armadilha” criada pela entrada na moeda única, da qual “é difícil” escapar. Isto porque se Portugal tivesse moeda própria “desvalorizaríamos o escudo e os problemas seriam muito mais fáceis, mas se hoje os portugueses abandonassem o euro teria um efeito “incrivelmente desestabilizador”.
“Ao tentarmos fazê-lo, teremos uma crise bancária imediata, uma crise jurídica com todas estas dívidas sem que ninguém saiba o que fazer com elas, é algo profundamente desestabilizador”, sublinha Krugman.
A alternativa é a “desvalorização interna”, ou seja, “uma queda gradual nos custos relativos” que o economista admite ser “uma coisa terrível” mas será necessário para permitir “a retoma das exportações”. “Portugal tem de ser mais competitivo em relação ao resto da zona euro”, defende.
Krugman avisa também que o primeiro-ministro tem um reduzidíssimo espaço de manobra, até porque “sem moeda própria, não há assim tanto espaço de manobra neste país”. “É um pouco como o governador de Nova Jérsia, nos Estados Unidos. Não tem assim tanta influência”, compara.
O economista considera também que os mercados “estão a subvalorizar Portugal”, quando ao nível dos dados económicos fundamentais “não está pior do que a Irlanda”, mas acredita que tudo aponta para que o país “não consiga pagar a totalidade do valor da dívida”.