Um filme como “O Que Há de Novo no Amor?” nasce, provavelmente, da percepção de que em Portugal a vida dos jovens adultos urbanos, ou em passagem da adolescência à idade adulta, interessou sempre mais à televisão (séries, telenovelas) do que ao cinema. A classe média urbana “pura”, quer dizer, sem nada de especial, foi muito mais retratada (bem ou mal) na televisão do que no cinema. Os jovens de “O Que Há de Novo no Amor” são um bocado assim, não têm nada de verdadeiramente especial, são como que o reflexo uns dos outros, gente com que nos podemos cruzar na rua sem perceber que nos cruzámos com ele. Em parte por alguma ingenuidade (indiciada, diríamos, no título, um pouco “naif”), em parte deliberadamente, como “projecto”, o filme joga com esta ausência de “marcas”, um mergulho numa normalidade corriqueira, personagens que raramente se destacam, personagens que, nos seus ziguezagues e nas suas indecisões, amorosas ou de outro tipo, receiam o gesto “em rasgo.
Este receio, numa perspectiva “sociológica”, seria um dado interessante a explorar, mas não é esse o caminho do filme, que está muito dentro do seu grupo de personagens e busca certamente algum tipo de empatia, quer construir um mosaico de pessoas e situações sem se afastar demasiado para uma distância de onde nascesse a “crítica” - é evidente que não estamos a lamentar que o filme não tenha a maldade com que Rohmer filmava “os jovens” (seria preciso que os realizadores fossem muito mais velhos do que as personagens...), mas falta-lhe alguma ferocidade, alguma frieza.
Construído como um filme de “sketches” não denunciados - passa-se de uns para outros sem indicação expressa - “O Que Há de Novo no Amor?” é suficientemente “orgânico” e uniforme para não sofrer em demasia com os desequilíbrios habituais em estruturas deste tipo. Tem muita música - as personagens giram em torno dela - e nesse aspecto está “à la page”: Samuel Úria, os Golpes, os Velhos... Pormenores, ainda estes, que por certo incentivarão o “reconhecimento”. O que está muito bem, mas teríamos gostado de encontrar também aquela luz fria do “não-reconhecimento”, quando tudo se volta contra a empatia, incluindo a do espectador com as personagens.