Judite de Sousa: banqueiros deram entrevistas para fazer ultimato a Sócrates

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Judite de Sousa trocou a RTP pela TVI aos 50 anos Foto: Pedro Cunha
Uma grande mudança aconteceu na sua vida pelos 50.

Foi aos 50 anos como podia ter sido aos 49, aos 48. Não há qualquer tipo de coincidência no facto de eu ter decidido deixar a RTP aos 50 anos de idade.


O que fica claro é que é um ciclo, um ciclo muito longo, que se encerra com a saída da RTP. E uma disponibilidade para começar de novo numa fase em que as coisas tendem à estabilização.

Tem razão. Assinei contrato na última semana de Março [de 2011], Portugal é resgatado [pelo FMI e UE] cerca de um mês depois. Estou convencida de que, se a mudança tivesse decorrido algumas semanas mais tarde, a Prisa e a Media Capital não me iriam contratar (…).


Isso ocorreu-lhe quando estava em negociações? A ideia de um resgate já pairava há algumas semanas.

Quando estou em negociações, o resgate é uma coisa de que se fala em surdina, mas nenhum responsável político ousava verbalizar o problema. A informação da TVI mudou muito; o elemento fundamental na percepção objectiva dessa mudança, foi o facto de o pedido de ajuda financeira que Portugal foi obrigado a fazer ter passado pela informação da TVI.


Refere-se às entrevistas aos presidentes dos principais bancos?

Muitas pessoas não perceberam por que é que andava a entrevistar banqueiros todos os dias. A verdade é que as entrevistas foram feitas numa segunda, numa terça, numa quarta e numa quinta; 48 horas depois, o primeiro-ministro estava a pedir ajuda financeira. (…)


A ideia de fazer as quatro entrevistas foi uma espécie de xeque-mate à chegada? Um modo de dizer que era capaz de mobilizar quatro dos homens mais poderosos do país e intervir na cena política portuguesa?

Foi. Foi intencional. (…)


Contacta os assessores de imprensa? Não pega no telefone para falar directamente com Fernando Ulrich?

Com alguns, trato directamente. Com o Fernando Ulrich falo directamente; talvez por ter sido jornalista, há um tipo de relação diferente. Mas não falo directamente com o Ricardo Salgado, passo sempre pelo Paulo Padrão [assessor]. As respostas surgiram logo no dia seguinte. Só mais tarde vim a perceber que aproveitaram o meu convite para acertar uma posição conjunta de forma a fazer um ultimato a José Sócrates. Acabei por, com aquelas entrevistas, fazer parte de uma narrativa que foi meticulosamente preparada pelos banqueiros.


Notícia corrigida às 13h20. Inicialmente, a data do pedido de resgate feito por Portugal estava errada.

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