Aposta na variedade de mercados reforça lucros da Auto Sueco
É costume dizer-se que não se devem pôr todos os ovos no mesmo cesto. Ora, o que se aplica às pessoas serve também para as empresas, como demonstra o exemplo da Auto Sueco. Num ano de crise em Portugal e Espanha, a presença em mercados como o Brasil levou a uma subida de 20% no volume de negócios para o valor mais alto de sempre, de 1,2 mil milhões de euros.
O "ovo" do Brasil foi o mais importante, e terá tendência a crescer ainda mais durante os próximos anos, indicou em entrevista ao PÚBLICO o presidente executivo, Tomás Jervell. O resultado deverá ser um lucro recorde superior a 30 milhões de euros, superior entre 60 a 70% a 2010 (o que se confirmará apenas no final de Fevereiro, com o fecho do exercício), e um EBITDA de 90 milhões de euros (tinha sido de 66 milhões no exercício anterior).
A Auto Sueco começou no maior país da América Latina apenas em 2007, como concessionária de pesados da Volvo em Mato Grosso, seguindo-se a entrada no estado de São Paulo em 2010. Agora, passados quatro anos, este é um mercado que "já representa 40,8% da facturação" e que subiu 23% em 2011, para 500 milhões de euros, sublinha o responsável máximo do grupo nortenho.
A estratégia passa por "um plano de investimentos bastante agressivo, de crescimento orgânico", que prevê a abertura de várias instalações durante os próximos anos e poderá estender-se à compra de outras empresas dentro e fora do sector, revela Tomás Jervell. O objectivo é passar a liderar o mercado de pesados em São Paulo ainda em 2012 (são agora segundos). E "até por uma questão demográfica", o Brasil deverá representar mais de metade da facturação da Auto Sueco até 2015, acredita.
A prova de que o outro lado do Atlântico é relevante para este grupo - que iniciou actividade no Norte de Portugal em 1933, pela mão de Luiz Oscar Jervell - foi a abertura de um centro corporativo em São Paulo, no início do Verão passado. "Temos aí cerca de 30 pessoas que apoiam e controlam os negócios no Brasil e detectam novas oportunidades", indica o descendente do fundador. [Luiz Oscar Jervell criou oficialmente a Auto Sueco em 1949, juntamente com Ingvar Poppe Jensen].
No entanto, nem apenas deste país se faz a actividade do grupo, nem só da representação dos camiões e autocarros da marca sueca. Além de Portugal, a partir de onde controlam várias actividades no estrangeiro, o terceiro centro corporativo fica em Angola - o primeiro país para onde a Auto Sueco se expandiu já há 20 anos, a convite da Volvo. Neste país, onde o grupo vende máquinas de construção civil e pesados, um crescimento de 45% para 164 milhões de euros, em 2011, acabou por compensar um desempenho mais fraco no ano anterior - quando a falta de pagamentos do Estado angolano às construtoras se reflectiu numa descida de mais de 50% do volume de negócios naquele mercado.
Tomás Jervell reconhece que a actividade económica no país "tem vindo a normalizar-se" e acredita que 2012 será mais um ano de crescimento importante, ainda para mais face a novos investimentos - como a construção de um aldeamento para trabalhadores expatriados e colaboradores e de um novo escritório, "num dos edifícios de escritórios mais importantes em Luanda". Mas ainda assim, feitas as contas, o peso dos negócios em Angola na facturação total da Auto Sueco, que subiu de 11 para 13% no último ano, ainda está longe dos 37% que este mercado representava há pouco tempo atrás.
O ritmo de crescimento dos Estados Unidos e da Turquia foi também importante, sublinha. Nestes dois países, o grupo vende máquinas de construção civil, através da participada Auto Sueco Coimbra, e a actividade tem ganho forças. Namíbia, Botswana, Quénia e Tanzânia, ainda com um peso conjunto de 0,4%, são outros mercados que estão a subir.
Aguentar o barcoEm contrapartida, Portugal é um mercado que continua a cair. "Estamos a passar por um período menos feliz e com desempenhos menos conseguidos em Portugal, mas as coisas estão razoavelmente estabilizadas. Temos uma estrutura muito afinada e estamos preparados para aguentar dois ou três anos mais difíceis", assegura Tomás Jervell.
O facto de 75% da actividade deste grupo nortenho passar hoje pela venda de equipamentos pesados, máquinas e camiões, a que se juntam outros 6% da comercialização de ligeiros, afectou fortemente o negócio devido à retracção deste sector. "O mercado de camiões em Portugal costumava andar à volta de 4500 unidades, mas este ano fechou com 2664." O resultado foi a queda da facturação de 330 para 303 milhões, com o país a representar 25% das receitas totais, quando em 2010 tinha um peso de 35%. Já a Espanha, onde o grupo vende máquinas de construção através da Auto Sueco Coimbra, é hoje quase insignificante (cerca de 3%).