Um pouco de “política de actores”: “Os Descendentes” é a “cara” de George Clooney. O que havia de agreste em “Election” (1999), “About Schmidt” (2002) e “Sideways” (2004), anteriores filmes de Payne, era também inseparável dos actores e do risco que estavam dispostos a correr - a virgindade corruptível de Matthew Broderick e Reese Witherspoon no filme de 1999, por exemplo; Jack Nicholson, Paul Giamatti e Thomas Haden Church nos .seguintes. A sequência em que Clooney, em “Os Descendentes”, corre, perdido, quando sabe que a mulher o traiu, é um momento de desamparo para a personagem e é o único momento em que este filme arrisca aventurar-se pelo desconforto, perder-se. Em tudo o resto, resiste a isso. Clooney é inseparável dessa necessidade de segurança. Convém recordar, então, um outro “glamouroso” liberal americano, Warren Beatty. George é o anti-Beatty. Separam-nos décadas, claro, mas sobretudo isto: um torna doce o (seu) liberalismo para fazer parte de um programa de charme e café; o outro nunca o usou (ao liberalismo) para mascarar o seu narcisismo e a sua ambição. Não haverá nunca um “Bullworth” na carreira de Clooney. Porque George não tem coragem de se rir de si próprio, de se auto-destruir. George é o veículo certo para o horizonte de lição de vida que espreira em “Os Desecendentes”. George é o veículo certo para o medo da vertigem.
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