Temos para nós que houve um momento na carreira de Eastwood em que ele começou a acreditar nos unânimes encómios críticos de ser o último dos clássicos americanos, e que essa consciência começou a afectar os seus filmes negativamente. Desde “Gran Torino” (2008) que Eastwood tem andado um bocadinho perdido em filmes sérios e sisudos sobre temas importantes (“A Troca”, “Invictus”, “Outra Vida”) - e “J. Edgar”, com o seu olhar à beira do “biopic” sobre o controverso director do FBI, J. Edgar Hoover, não é excepção. Mas, paradoxalmente, este é também o mais interessante desta sequência de filmes, pelo olhar sem complacências sobre o reverso do poder, pela tentativa de humanizar uma personagem que se apagou por trás de uma fachada tão minuciosamente mantida que o homem sufocou no seu interior. Nem sensacionalista nem banal, de um discreto classicismo, “J. Edgar” é uma tragédia de sentimentos subordinados ao poder, que soçobra aqui e ali sob o peso institucional da fórmula biográfica, mas que confirma Eastwood como um senhor director de actores, arrancando de Leonardo di Caprio, irreconhecível no papel de Hoover, uma das suas mais notáveis interpretações.
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