Um postulado antigo refere o seguinte: “O aluno da escola pública pensa e vive o dia de hoje, o aluno da escola privada pensa o futuro, define desde cedo o curso que vai tirar e trabalha nesse sentido”. Não será tão linear, mas existe algum fundamento nesta hipótese.
A Universidade do Porto lançou em Janeiro de 2012 um relatório do Observatório de Empregabilidade no qual refere, e de acordo com os dados dos estudantes admitidos em 2008/2009, que “em média e ao fim de três anos, os estudantes provenientes de escolas privadas revelam pior desempenho do que os de escolas públicas”. Poderia este dado não ter significado se na realidade não se verificasse que as notas de ingresso dos estudantes da escola privada são, em média, superiores às dos estudantes das escolas públicas.
Estes dados revelam uma de duas questões críticas em ambos os ensinos: ou as escolas privadas formatam os estudantes para o critério de acesso ao ensino superior, com a obsessão do número que obtêm para a candidatura, categorizando estes alunos como aqueles que desde cedo têm o seu futuro planeado, nomeadamente no curso que irão frequentar no acesso ao ensino superior e trabalham nesse sentido, subvertendo o processo de ensino; ou então as escolas públicas não exploram a capacidade dos estudantes – podendo também a metodologia pedagógica estar direccionada para o espírito crítico - e estes são colocados à prova no ensino superior, revelando melhor performance.
O relatório continua sentenciando que “(…) após três anos, os estudantes que fizeram os seus exames de acesso em escolas públicas têm uma presença superior no grupo dos 10% melhores do que aqueles que os fizeram em escolas privadas”. E pegando num exemplo mais crítico e comum, “(…) a diferença “Privado”/ “Público” acentua-se nos cursos de Medicina”. Esta tendência direccionada para o curso com mais procura reforça o aspecto crítico.
Este fenómeno inversamente proporcional, a meu ver, revela várias questões que podem ser extrapoladas da leitura destes dados. Será adequada a forma de admissão nas Universidades, baseadas apenas no critério do número que alegadamente traduz o conhecimento e a capacidade do indivíduo?
Exemplos internacionais – Bélgica, Reino Unido e Holanda, por exemplo - revelam que este axioma não é totalmente válido, é insuficiente e encontra-se gasto, bem como evidenciam uma utilização mais eficiente dos recursos resultantes de menores taxas de abandono e reprovação, tornando as Universidades menos socialmente selectivas pela supressão da auto-estrada com portagem para o ensino superior. Se o ensino não gratuito pesa na ponderação ética da equidade, então coloque-se todos os dados na balança, este é só mais um, mas também conta.