Atrasos nos pagamentos deixam comunidades terapêuticas em dificuldades

Alfredo Calado disse à Lusa que a associação não recebe o valor convencionado com o IDT desde Agosto e que deixou igualmente de receber os “termos” (documentos que autorizam o tratamento), frisando que das 28 pessoas actualmente em tratamento 25 aguardam ainda a emissão desse documento.

Sem saberem exactamente de que estrutura vão passar a depender com a extinção do IDT, as comunidades terapêuticas, instituições particulares de solidariedade social, temem pela sua sobrevivência, havendo já algumas a encerrar, frisou.

Segundo disse Alfredo Calado, além dos atrasos nos pagamentos, as instituições têm vindo a ver reduzidos os donativos de bens alimentares que recebiam por parte de algumas empresas, valendo a parceria com o Banco Alimentar.

Por outro lado, as famílias raramente pagam os 20 por cento do valor do internamento que lhes cabe, disse.

Segundo Alfredo Calado, se não fosse a comparticipação que recebem da Segurança Social por projectos que têm em curso, muitas das comunidades já teriam fechado, havendo neste momento grande dificuldade em pagar os salários.

Criada em 1993, a Associação Picapau, instalada numa quinta alugada na povoação de Atalaia (freguesia de Almoster), aplica o chamado método Minnesota ou dos doze passos, que procura a cura de toxicodependentes através “de um trabalho interior”, de alteração do estilo de vida, sem utilização de medicamentos de substituição.

Além da quinta, a associação tem uma equipa de rua e três apartamentos para inserção, com um total de 22 camas.

A equipa técnica integra dois psicólogos (um terceiro teve que ser dispensado recentemente devido às dificuldades financeiras), um educador especial, um assistente social e cinco monitores, havendo ainda consultas regulares por parte de um clínico geral e de um psiquiatra.

A maior parte dos internados são dependentes de heroína e cocaína, mas há também alcoólicos e, mais recentemente, a associação começou a receber pessoas que estão em tratamento com metadona.

Entre as pessoas que se encontram na comunidade há algumas que estão em tratamento em substituição de pena, o que, frisou Alfredo Calado, sai mais barato ao Estado, além de que há um trabalho de reabilitação.

A agência Lusa questionou o Ministério da Saúde sobre as razões dos atrasos nos pagamentos e sobre quem vai tutelar estas instituições, não tendo obtido resposta em tempo útil.