Está-lhe na personalidade a vontade de conhecer o mundo: viveu na República Checa, depois na Dinamarca. Vive em Los Angeles há três anos. Portugal? É apenas o país de origem a que não quer voltar.
Há um misto de conformismo e revolta nas palavras de David Cabral, jovem de 30 anos. “O único sítio do mundo em que se pode ganhar a vida exclusivamente como argumentista é em Los Angeles”, diz. Em Portugal, o sector nunca se desenvolveu: “Não existem argumentistas para cinema que trabalhem em exclusividade nessa área, até porque o cinema depende do Estado, e, em relação à televisão, existe uma empresa que detém o monopólio da escrita”.
O desejo de ser argumentista levou o jovem de 30 anos para fora do país – e foi fora do país que conseguiu concretizá-lo. Mas não é só por ele que não quer regressar. “Há um problema de falta de ambição e de empreendedorismo”, lamenta. David Cabral é um admirador dos Estados Unidos: “Há que distinguir o que Portugal tem e os outros países em que vivi têm e tudo aquilo que os Estados Unidos têm e mais nenhum país do mundo tem”.
Portugal, país sem oportunidades
O sonho americano começou em 2008, quando David Cabral foi para a Universidade do Sul da Califórnia fazer um mestrado em Escrita para Televisão e Cinema. Actualmente, trabalha como assistente numa companhia de produção e faz trabalhos como free-lancer em publicidade e cinema. Está a trabalhar numa adaptação ao cinema do romance "O Último Cabalista de Lisboa", de Richard Zimler.
David fala dos países europeus por onde passou para fazer a comparação: “Quando vivi na República Checa, o país estava em todos os índices de desenvolvimento atrás de Portugal. Mas havia organização, cultura e empreendedorismo. E na Dinamarca investiram na educação”. A pergunta que se segue é um baixar de braços que o argumentista assume: “Como quer que Portugal compita com estes países?”.
Acredita que não há muito por onde puxar quando se quer salientar os pontos positivos do país (“Não quero estar a falar de clichés de turistas, como a simpatia das pessoas e o bom tempo”) e que sair do país é um caminho sem volta: “Quando se sai de Portugal e se vê o mundo é muito difícil voltar a um sítio com uma mentalidade tão retrógrada”.