A Pele Onde Eu Vivo

O cinema de Almodóvar sempre mostrou alguém (ele, realizador) às voltas com pedaços de corpos alheios: Pedro no laboratório dos géneros cinematográficos. Faz sentido que tenha colocado agora a sua “criatura”, Antonio Banderas, 22 anos depois da última experiência em comum (“Ata-me”), no papel de um criador amoral: um cirurgião plástico que cria uma nova pele e, por extensão, uma nova criatura, à imagem da mulher morta depois de um acidente que a deixou queimada.


Mas se Banderas cria a mulher, e se Almodóvar cria o monstro, fica um filme à procura de um corpo. É tão notória a dificuldade do cineasta em lançar os dados do filme - problema recorrente nos últimos trabalhos, aqui exponenciado -, é tão incomodativa a plasticidade forçada, peças díspares que não colam, que resistem, apesar de escritas, a fazer corpo, que quando há a sensação de autoparódia já a coisa esta à beira de acabar. Mas que filme podia ter sido, a que delírios podia ter chegado...

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