Sem Tempo

Há uma ideia tão forte, mas tão forte, mas tão forte em “Sem Tempo” que literalmente transporta ao colo o filme de Andrew Niccol: a ideia de um mundo futurista onde o tempo é a moeda única de uma humanidade geneticamente programada para parar de envelhecer aos 25 anos, altura em que entra em acção um relógio interno de “obsolescência programada”, e só - literalmente - ganhar tempo permite prolongar a vida. Niccol é perito neste tipo de distopias engenhosas, pois foi ele quem escreveu o “Truman Show” de Peter Weir e dirigiu o mítico “Gattaca”.


Talvez procurando evitar o destino de filme de culto a posteriori que recebeu “Gattaca” e assinar de vez um êxito de bilheteira, o neo-zelandês tenta com “Sem Tempo” fazer um filme que funcione ao mesmo tempo como filme de ideias e thriller de acção, com um casal (Amanda Seyfried e Justin Timberlake) que o destino leva a tentar mudar uma sociedade estratificada onde os ricos vivem para sempre e os pobres morrem jovens: “Bonnie & Clyde” arraçado de “Metropolis” numa Los Angeles retro-futurista inspirada pelo “Alfaville” de Godard e pela ficção científica distópica americana dos anos 1970 (“À Beira do Fim”, “Fuga no Século XXIII”). É um cruzamento que acaba por ficar aquém das potencialidades da trama - muito mais interessante enquanto meditação esquinada sobre a morte do que enquanto thriller neo-noir - mas que resulta num objecto fascinante e intrigante, e um dos melhores filmes de estúdio saídos da Hollywood recente.

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