Ele show Nico

Sim, é verdade: não só Nicolau Breyner tem um inenarrável "talk-show" semanal, como "Nico à Noite" já vai na segunda temporada

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Anseio pelo dia em que Pedro Mexia seja protagonista de uma notícia importante. Não é por ele, é porque sei que, na sexta-feira seguinte, lá pelas 23h45, Nicolau Breyner fará uma piada com isso. A piada será a mais óbvia possível: "Mexia? Já não mexe?" Se achas que estou a brincar, vê "Nico à Noite", o "talk-show" que mantém na RTP1 e que, surpreendentemente, já vai na segunda temporada. Se eu tivesse de resumir o sentido de humor de "Nico à Noite" numa só piada, usaria esta: "Domingos Paciência é o novo treinador do Sporting. Acho bem, porque realmente é preciso muita paciência para treinar o Sporting." Ao contrário da piada sobre o Mexia, é uma citação. Não mudei nada. Isto foi dito e as gargalhadas enlatadas do "público" seguiram-se (escrevo "público" entre aspas porque não tenho a certeza de que estejam mesmo lá pessoas a rir, acho que já as vi, mas soa tudo tão falso que a minha cabeça bloqueia quando tento pensar nisso).

Será isto humor? Um suposto colosso do humor português com mais de 50 anos de carreira debita, sem convicção, piadas básicas que uma criança de dez anos acharia demasiado óbvias. É quase tudo feito à base da homonímia, da homofonia e de uma leve homofobia. Entre piadas sobre a actualidade e rábulas humorísticas sofríveis, há conversas. Todas, sem excepção, são péssimas, com convidados de quem Nico diz ser "amigo há anos" (parece ser o único critério para se ser convidado do programa). A não ser em casos pontuais. Em Maio, Linda Hamilton, foi ao programa apresentar "The Line", uma terrível co-produção portuguesa e canadiana. A única coisa pior que Nicolau Breyner a conversar em português é Nicolau Breyner a conversar em inglês. Não sabe dizer "Schwarzenegger", diz "Areland" em vez de "Ireland" e, melhor ainda, alguém, nas legendas, traduz "Mena Suvari" como "Romina Savari". O que ilustra bem o que se passa: da banda que sublinha as "piadas" do monólogo com apontamentos musicais ao resto da equipa, o entusiasmo de quem trabalha no programa parece ser nulo. E, mesmo assim, é algo que passa no horário nobre da RTP1.

Como é natural, é preciso respeitar o passado, e há bons momentos na carreira de Nicolau Breyner que ninguém lhe tira. Mas este tipo de humor e de programa não faz sentido. Nenhum. Nem em 2011 nem noutro ano qualquer. Seria de esperar que, em vez disto, se erguesse uma nova geração de bons humoristas com ideias e piada para preencher as nossas grelhas televisivas, mas, salvo raras excepções, isso não acontece. Mais que triste, é deprimente.

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